quinta-feira, 13 de abril de 2023

Dreamland | Terra dos Sonhos

 Edgar Allan Poe | Robert de Brose

By a route obscure and lonely,  

Haunted by ill angels only,

Where an Eidolon, named NIGHT,  

On a black throne reigns upright,

5 I have reached these lands but newly  

From an ultimate dim Thule—

From a wild weird clime that lieth, sublime,

       Out of SPACE—Out of TIME.

 

Bottomless vales and boundless floods,  

10 And chasms, and caves, and Titan woods,  

With forms that no man can discover  

For the tears that drip all over;  

Mountains toppling evermore  

Into seas without a shore;  

15 Seas that restlessly aspire,  

Surging, unto skies of fire;  

Lakes that endlessly outspread  

Their lone waters—lone and dead,—  

Their still waters—still and chilly  

20 With the snows of the lolling lily.

 

By the lakes that thus outspread

Their lone waters, lone and dead,—

Their sad waters, sad and chilly

With the snows of the lolling lily,—

25 By the mountains—near the river  

Murmuring lowly, murmuring ever,—  

By the grey woods,—by the swamp  

Where the toad and the newt encamp,—  

By the dismal tarns and pools

30   Where dwell the Ghouls,—  

By each spot the most unholy—  

In each nook most melancholy,—  

There the traveller meets, aghast,  

Sheeted Memories of the Past—  

35 Shrouded forms that start and sigh  

As they pass the wanderer by—  

White-robed forms of friends long given,  

In agony, to the Earth—and Heaven.

 

For the heart whose woes are legion  

40 ’T is a peaceful, soothing region—  

For the spirit that walks in shadow  

’T is—oh, ’t is an Eldorado!

But the traveller, travelling through it,  

May not—dare not openly view it;  

45 Never its mysteries are exposed  

To the weak human eye unclosed;  

So wills its King, who hath forbid  

The uplifting of the fring'd lid;  

And thus the sad Soul that here passes  

50 Beholds it but through darkened glasses.

 

By a route obscure and lonely,  

Haunted by ill angels only,

Where an Eidolon, named NIGHT,

On a black throne reigns upright,  

55 I have wandered home but newly  

From this ultimate dim Thule.

Através uma rota obscura e erma

Por anjos do mal assombrada apenas,

Onde um Eidolon NOITE chamado,

Num negro trono reina aprumado.

5 A essas terras vim, mas já então

De um’ última Thule na escuridão

Através de um clima agreste e infenso

       Fora do ESPAÇO; Fora do TEMPO.

 

Vales sem fundo e cheias oceânicas

10 E abismos e grutas e matas titânicas,

Com formas impossíveis de discernir

Pelas lágrimas que não param de cair;

Montanhas que avançam sem parar

pelas escarpas sem praias do mar;

15 Mares que se elevam com denodo,

E se insurgem contra céus de fogo.

Lagos que o olhar não comporta

De ermas águas, ermas e mortas

De frias águas, frias e sem brilho

20 Co’ as neves do balouçante lírio.

 

Por lagos que o olhar não comporta,

Suas águas ermas, ermas e mortas

Suas águas frias, frias e sem brilho

Co’ as neves do balouçante lírio.

25 Pelas montanhas - junto dos rios

Murmurando baixo, anos a fio,

Por cinéreas selvas e o marnel

Onde rã e a osga fazem quartel.

Por altas lagoas e poças sombrias

30   Onde o morto-vivo tem moradia.

Por cada local o menos santo

Onde há tristeza em todo canto

Lá o viandeiro encontra, chocado,

Memórias veladas do seu passado

35 Amortalhadas formas que, co'um suspiro,

Pelo peregrino passam, num giro—

Almas de amigos em alvos robes, ao léu,

Dadas em agonia à terra ou ao céu.

 

Ao coração cujas tristezas é legião,

40 Esta é uma calma, mitigante região,

Para o espírito nas sombras criado,

Ela é, — oh!, ela é um Eldorado!

Mas o viandeiro viajando por ela,

Não pode— não ousa, de todo vê-la;

45 Nunca seus mistérios são revelados

A olhos humanos senão fechados.

Assim comanda seu Rei, que proibiu

Expor o que a ornada tampa cobriu;

E a triste Alma que aqui se aventura

50 A vê, mas apenas por lentes escuras.

 

Através uma rota obscura e erma

Por anjos do mal assombrada apenas,

Onde um Eidolon NOITE chamado,

Em seu negro trono reina aprumado,

55 De volta à casa errei, mas já então

De um’ última Thule na escuridão.



Notas:

vv. 20 e 24: Co' as neves do balouçante lírio: Talvez uma alusão aos lírios d'água que aparecem no contro Silence - A Parable. Interessante notar que a terra desolada descrita nesse poema é bastante reminiscente a daquela do conto. Inclusive, a epígrafe daquele conto, o fr. 85 Álcman, εὕδουσι δ' ὀρέων κορυφαί τε καὶ φάραγγες/ πρώονές τε καὶ χαράδραι ("The mountain pinnacles slumber; valleys, crags and caves are silent", na tradução do original), é reminiscente dos vv. 9-10 deste poema.

quarta-feira, 5 de abril de 2023

Είμαστε κάτι... | Somos alguns...

Kostas Karyotákis | Robert de Brose

 

Είμαστε κάτι ξεχαρβαλωμένες

κιθάρες. Ο άνεμος, όταν περνάει,

στίχους, ήχους παράφωνους ξυπνάει

στις χορδές που κρέμονται σαν καδένες.

 

Είμαστε κάτι απίστευτες αντένες.

Υψώνονται σα δάχτυλα στα χάη,

στην κορυφή τους τ' άπειρο αντηχάει,

μα γρήγορα θα πέσουνε σπασμένες.

 

Είμαστε κάτι διάχυτες αισθήσεις,

χωρίς ελπίδα να συγκεντρωθούμε.

Στα νεύρα μας μπερδεύεται όλη η φύσις.

 

Στο σώμα, στην ενθύμηση πονούμε.

Μας διώχνουνε τα πράγματα, κι η ποίησις

είναι το καταφύγιο που φθονούμε.

 

Somos alguns quebrados e dormentes

violões. O vento, quando os atravessa,

versos, ecos discordes lhes desperta

nas cordas que pendem tal correntes.

 

Somos umas antenas jamais sonhadas,

que se erguem como dedos às esferas,

em suas pontas o infinito reverbera,

mas logo vêm ao chão, despedaçadas.

 

Somos muitas sensações em anarquia,

sem chances de que um dia nos centremos.

Nos nervos nossos a natureza se esvazia.

 

No corpo, na lembrança, assim sofremos,

as coisas nos perseguem, e a poesia

é o abrigo a que sempre recorremos.