domingo, 30 de dezembro de 2018

Correspondances | Correspondências

Charles Baudelaire | Robert de Brose

Correspondances

La Nature est un temple où de vivants piliers
Laissent parfois sortir de confuses paroles;
L'homme y passe à travers des forêts de symboles
Qui l'observent avec des regards familiers.

5 Comme de longs échos qui de loin se confondent
Dans une ténébreuse et profonde unité,
Vaste comme la nuit et comme la clarté,
Les parfums, les couleurs et les sons se répondent.

II est des parfums frais comme des chairs d'enfants,
10 Doux comme les hautbois, verts comme les prairies,
— Et d'autres, corrompus, riches et triomphants,

Ayant l'expansion des choses infinies,
Comme l'ambre, le musc, le benjoin et l'encens,
Qui chantent les transports de l'esprit et des sens.

Correspondências

A natureza é um templo onde vivos pilares
Deixam por vezes escapar confusas palavras;
O homem aí passa numa floresta de charadas
Que o observam com semblantes familiares.

5 Como longos ecos que de longe se confundem
Em uma tenebrosa e profunda unidade,
Vasta como a noite e como a claridade,
Os perfumes, as cores e os sons se aludem.

Há perfumes frescos como a carne de infantes
10 Verdes como os campos, doces como as madeiras,
— E outros, corrompidos, ricos e triunfantes,

Possuidores d’amplidão das coisas verdadeiras,
Como o âmbar, o almíscar, o benjoim e o incenso,
Que cantam o enlevo do espírito e do senso.


Fonte: Les Fleurs du Mal. Classiques Françaises. Bookking International: Paris, 1993.

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

ODE XVII Galimatias Pindarique | ODE XVII Baboseiras Pindáricas

Voltaire | Robert de Brose

ODE XVII

Galimatias Pindarique

Sur un carrousel donné par L’Impératrice de Russie

(17661)

1 Sors du tombeau, divin Pindare,
Toi qui célébras autrefois
Les chevaux de quelques bourgeois
Ou de Corinthe ou de Mégare;
5 Toi qui possédas le talent
De parler beaucoup sans rien dire;
Toi qui modulas savamment
Des vers que personne n'entend,
Et qu'il faut toujours qu'on admire.

10 Mais commence par oublier
Tes petits vainqueurs de l'Élide;
Prends un sujet moins insipide;
Viens cueillir un plus beau laurier.
Cesse de vanter la mémoire
15 Des héros dont le premier soin
Fut de se battre à coups de poing
Devant les juges de la Gloire.

La Gloire habite de nos jours
Dans l'empire d'une amazone;
20 Elle la possède, et la donne:
Mars, Thémis, les Jeux, les Amours,
Sont en foule autour de son trône.
Viens chanter cette Thalestris2
Qu'irait courtiser Alexandre.
25 Sur tes pas je voudrais m'y rendre,
Si je n'étais en cheveux gris.

Sans doute, en dirigeant ta course
Vers les sept étoiles de l'Ourse,
Tu verras, dans ton vol divin.
30 Cette France si renommée
Qui brille encor dans son déclin;
Car ta muse est accoutumée
A se détourner en chemin.

Tu verras ce peuple volage.
35 De qui la mode et le langage
Régnent dans vingt climats divers;
Ainsi que ta brillante Grèce
Par ses arts, par sa politesse.
Servit d'exemple à l'univers.

40 Mais il est encor des barbares
Jusque dans le sein de Paris;
Des bourgeois pesants et bizarres,
Insensibles aux bons écrits;
Des fripons aux regards austères.
45 Persécuteurs atrabilaires
Des grands talents et des vertus;
Et, si dans ma patrie ingrate
Tu rencontres quelque Socrate,
Tu trouveras vingt Anitus3.

25 Je m'aperçois que je t'imite.
Je veux aux campagnes du Scythe
Chanter les jeux, chanter les prix
Que la nouvelle Thalestris
Accorde aux talents, au mérite;
55 Je veux célébrer la grandeur,
Les généreuses entreprises.
L'esprit, les grâces, le bonheur.
Et j'ai parlé de nos sottises.

Notes dans l’édition originale

1. Le titre que je donne à cette pièce est celui qu'elle a dans les éditions données du vivant de l'auteur, en 1770, 1771, 1775. Quant à la date, c'est celle que lui donnent les éditions de Kehl. Mais je remarquerai que dans les éditions de 1770, 1771, 1775, au lieu de 1766, on lit 1768, date qui me parait plus probable, soit pour époque du carrousel, soit pour époque de la composition de la pièce. Voltaire a fait l'éloge de la magnificence de ce carrousel de Catherine II (dans le chapitre xcix de Essai sur les mœurs). Mais le passage où il en parle n'existait pas encore dans l'édition in-4º, qui est de 1708 : nouvelle raison pour rejeter la date de 1760. (B.)

2. Thalestris, reine des Amazones, sortit de ses États pour venir voir Alexandre le Grand, auquel elle avoua de bonne foi qu'elle désirait avoir des enfants de lui, se croyant digne de donner des héritiers à son empire. Quinle-Curce, (Note de Voltaire, 1770.)

3. Anitus fut le délateur et l'accusateur calomnieux de Socrate. (Id., 1770.)

ODE XVII

Baboseiras Pindáricas

Para um carrossela dado pela Imperatriz da Rússia

(17661)

Sai da tumba Píndaro divino
tu, que outrora já cantaras
os corcéis desses grã-finos
de Corinto ou de Megáras;
Tu, que tinhas o talento
de mui falar sem dizer nada;
tu, que moldavas a contento
odes que ninguém entende
e devem ser admiradas.

Mas começa por esquecer
d’Élidab teus parvos vencedores
tema escolhe de mais sabores;
lauréis mais belos vem colher.
Cessa de louvar a memória
de heróis cujo único cuidado,
foi com socos ser golpeados
frente aos árbitros da Glória.

A Glória existe em nossos dias
no império de uma amazonac
ela a possui e a comissiona:
Marte, Têmis, os jogos, o amor
cercam seu trono de esplendor
Vem cantar essa Talestris2,
Que Alexandre cortejaria.
E em seu rastro eu seguiria
Não fora já os cabelos gris.

Decerto, dirigindo o olhar
da Ursa àquele luminard,
verás, no teu voo divino
Essa França tão renomada
qu’inda luzeia em seu declínio;
pois tua musa é acostumada
a se perder em seu caminhoe.

Verás um povo mui vaidoso
cuja língua e estilo primoroso
viçam em climas mui diversos;
Mas tua Grécia em fulgurância
Por suas artes e a elegância
Serviu de exemplo ao universo.

Ainda bárbaros de todos lados
há no seio de Paris dispersos;
Burgueses chatos e bizarros;
Insensíveis aos bons versos;
Canalhas de austero senho,
perseguidores sem engenho
de grãs virtudes e talentos;
e se da pátria por estes ares
algum Sócrates encontrares
Vais ver Ânitos aos centos3.

Já me apercebo que te imito.
Quero da Cítia no infinito
Cantar os jogos e os prêmios
Que Talestris, o novo gênio,
dá aos talentos por seu viço;
Quero celebrar a grandeza,
e as aventuras adventícias:
A alma, a graça, a beleza.
Mas falei de nossa estultícia.

Notas da edição original

1. O título que dei à este poema é aquele que ele tem nas edições dadas ainda em vida pelo autor, em 1770, 1771, 1775. Quanto à data, é aquele lhes dão as edições de Kehl. Mas eu notaria que nas edições de 1770, 1771, 1775, ao invés de 1776, lê-se 1768, data que me parece mais provável, seja por ser a época do carrossel, seja por ser a época da composição do poema. Voltaire fez um elogio da magnificiência desse carrossel de Catarina II (no capítulo XCIX do Essai sur les mœurs). Mas a passagem de que ele fala não existia mais na edição in-4º que é aquela de 1708: uma nova razão para rejeitar a data de 1760. (B).

2. Talestrís, rainha das amazonas, saiu de sua terra para ir ver Alexandre o Grande, a quem ela prometeu de boa fé que desejava ter filhos dele, crendo-se digna de dar herdeiros a seu império. Quinte-Curce, (Nota de Voltaire, 1770.)

3. Ânito foi o delator e acusador calunioso de Sócrates. (Id., 1770)

st. petersbourg square

FONTE: Œuvres complètes de Voltaire: Poésie. Nouvelle Édition conformé par le texte à l’édition de A. J. Quentin Beuchot. Garnier: Paris, 1877, pp. 486-89.

NOTAS DO TRADUTOR:

(a) Esse carrossel foi uma espécie de competição equestre (e não o brinquedo temático) organizada por Catarina II na praça do Palácio de Inverno em São Petesburgo. O carrossel Russo fora inspirado pelas competições equestres dos jogos olímpicos e deveria rivalizar com o grande carrossel montado por Luís XIV em 1662 na praça das Tuileries, em Paris, para celebrar o nascimento do Delfim, bem como com aqueloutro magnífico carrossel organizado em  Berlin em 1765 pelo Rei da Prússia, Frederico II, o Grande. O carrossel russo era disposto em três quadrilhas: de eslavos, de romanos, de indianos e de turcos. Cada uma das quadrilhas era encabeçada por um arauto e uma banda, que deveria tocar músicas representativas de suas regiões. Um anfiteatro fora construído na praça do palácio de inverno, onde deveriam se encontrar as quadrilhas. Dali os aristocratas percorreram as raias improvisadas na praça e arredores, decapitando manequins de cera. A grande inovação do carrossel de Catarina era a participação das mulheres. De fato, identificando-se com as mulheres espartanas, a própria Catarina era a capitã do time eslavo e conduzira seu treinamento, daí sua identificação com a amazonas Thalestris por Voltaire. Os líderes das quadrilhas Romana e Indiana eras os irmão Orlov, que ganharam todas as provas. A campeã do time de Catarina foi Natalia Golitsyna (née Chernyshova). Foi ela que serviu de modelo para o romance de Pushkin A Rainha de Espadas.  O carrossel serviu de inspiração e sátira para muitos poetas russos, como Vasily Petrov e Gravila Derzhavin. (NARODITSKAYA, I. (2012) Bewitching Russian Opera: The Tsarina from State to Stage. OUP: Oxford, p. 26-28).

(b) Olímpia, local dos jogos olímpicos, ficada na região da Grécia conhecida como Élida.

(c) Catarina II, a Grande, Imperatriz da Rússia, mais adiante identificada com a amazona Thalestris.

(d) Ou seja, para o Oeste, em direção à França.

(e) Píndaro era conhecido por suas inúmeras digressões, intercaladas por provérbios, entre a ocasião da ode, o mito e o louvor ao laudandus.


VERSÕES:

1ª: 26 de novembro de 2018.

2ª: 28 de novembro de 2018:
v
. 5: tu que tinhas o talento [tu, que o dom tinhas à mente];
v. 7: tu, que modulavas sabiamente [tu, que moldavas a contento];
v. 9: e sempre admiradas devem ser [e sempre devem ser admiradas];
v. 15: Foi com socos ser golpeados | frente aos [Foi com socos descompensados | lutar pros ];
v. 27-8: o olhar | da Ursa para àquele luminar [a vela | da Ursa para as sete estelas ];
v. 24: ver [achar];
v. 54: Julga os talentos por serviço [dá aos talentos por seu viço];
v. 57: [A alma, a graça, a beleza]

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Gedichte von der Niemandsrose | Poemas de “Rosa-ninguém”

Paul Celan | Robert de Brose

1 ES WAR ERDE IN IHNEN, und
sie gruben.
Sie gruben und gruben, so ging
ihr Tag dahin, ihre Nacht. Und sie lobten nicht Gott,
5
der, so hörten sie, alles dies wollte,
der, so hörten sie, alles dies wusste.
Sie gruben und hörten nichts mehr;
sie wurden nicht weise, erfanden kein Lied,
erdachten sich keinerlei Sprache.
10
Sie gruben.
Es kam eine Stille, es kam auch ein Sturm,
es kamen die Meere alle.
Ich grabe, du gräbst, und es gräbt auch der Wurm,
und das Singende dort sagt: Sie graben.
15
O einer, o keiner, o niemand, o du:
Wohin gings, da's nirgendhin ging?
O du gräbst und ich grab, und ich grab mich dir zu,
und am Finger erwacht uns der Ring.

1 WAS GESCHAH? Der Stein trat aus dem Berge.
Wer erwachte? Du und ich.
Sprache, Sprache. Mit-Stern. Neben-Erde.
Ärmer. Offen. Heimatlich.
5
Wohin gings? Gen Unverklungen.
Mit dem Stein gings, mit uns zwein.
Herz und Herz. Zu schwer befunden.
Schwerer werden. Leichter sein.

SALM

1 Niemand knetet uns wieder aus Erde und Lehm,
niemand bespricht unseren Staub.
Niemand.

Gelobt seist du, Niemand.
5
Dir zulieb wollen
wir blühn.
Dir
entgegen.

Ein Nichts
10
waren wir, sind wir, werden
wir bleiben, blühend:
die Nichts-, die
Niemandsrose.

Mit
15
dem Griffel seelenhell,
dem Staubfaden himmelswüst,
der Krone rot
vom Purpurwort, das wir sangen
über, o über

20 dem Dorn.

HAWDALAH

1 An dem einen, dem
einzigen
Faden, an ihm
spinnest du – von ihm

5
Umsponnener, ins
Freie, dahin,
ins Gebundne.

Groß
stehen die Spindeln

10
ins Unland, die Bäumer:es ist,
von unten her, ein
Licht geknüpft in die Luft-
matte, auf der du den Tisch deckst, den leeren
Stühlen und ihrem

15 Sabbatglanz zu --

zu Ehren.

HAVIA TERRA NELES, e eles
cavavam.
Cavavam e cavavam, seus dias
passavam assim, suas noites. E não louvavam Deus,
que, assim se ouvia, tudo isso queria,
que, assim se ouvia, tudo isso sabia.
Cavavam e já não mais ouviam;
Não se tornaram sábios, canção nenhuma encontraram,
nenhum tipo de língua inventaram.
Eles cavavam.
Veio um calmaria, e veio também a borrasca,
os mares todos vieram.
Eu cavo, tu cavas, e cava o verme também,
e o que acima cantava dizia: Eles cavam.
Ó algum, ó nenhum, ó ninguém, ó tu:
Ao que isto leva, se a nenhures leva?
Ó tu cavaste e eu cavei e eu me cavei pra junto a ti,
e no dedo despertou-nos o anel.

QUE SE PASSOU? A pedra emergiu da montanha.
Quem despertou? Tu e eu.
Língua, língua. Íntima estrela. Terra-fantasma.
Mais pobre. Exposta. Domesticada.
Aonde foi? Pro desamortecimento.
Foi-se com a pedra, com nós dois.
Coração e coração. Julgado assaz pesado.
Pesado tornando-se. Mais leve sendo.

SALMO

Ninguém nos molda de novo da terra e o barro,
ninguém evoca nosso pó.
Ninguém.

Louvado sejas tu, Ninguém.
Graças a ti queremos
florescer
Em tua
direção.

Um nada
éramos, somos, continuaremos
sendo, florescendo:
A rosa-nada, a
rosa-ninguém.

Com
o pistilo almibrilhante,
e o estame agriceleste,
a corona carmim
da púrpura palavra, que cantamos
sobre, ó sobre
o espinho

HAVDALAH

Junto do um, do
único
fio, junto dele
teces – por ele
entrelaçado, rumo a
liberdade, para longe,
rumo ao encadeado.

Imponentes
erguem-se os Fusos
na Desterra, as árvores: há,
de baixo acima, uma
luz entretecida à brisa
da pradaria, sobre a qual tu pões a mesa, a vazia
cadeira e seu
brilho do Sabbath em --

em sua honra.

Vädersoltavlan_cropped

Jacob Heinrich Elbfas (c.1600–1664), Vädersolstavlan. (Nebensonne ou Paraélio) em Stockholm em 1535.

FONTE: Paul Celan, Die Gedichte: Kommentierte Ausgabe. Berlin: Suhrkamp, 2005, p. 125;153.

NOTAS DO TRADUTOR:

II, v. 3: Mit-Stern. Neben-Erde | Íntima-estrela. Terra-fantasma: O prefixo “mit-“ aqui indica uma associação íntima, como em “Mitbruder” (“camarada”) e não, como se sói ver na maioria das traduções, a simples composição com a preposição "mit”/”com”. Da mesma forma com o advérbio “neben” (“póximo”, “vizinho”) que tem seu valor semântico deduzido construído, a meu ver, sobre a expressão “Nebenson”, quando, em virtude da difração da luz do sol na atmosfera, há a formação de duas imagens fantasmas do sol diametralmente opostas. Para Celan, a luz da poesia brilha, mas ela é difratada e deformada pela linguagem humana, que a torna mais distendida, pobre e particularizada.

II, v. 5: Gen Unverklungen | Pro desamortecimento: Unverklungen trata-se de um neologismo criado por Celan a partir do particípio passado do verbo verklingen, “amortecer”, quando se fala de um som (klingen sendo “soar”), e em conjunção com a partícula negativa un-, “des-”.

IV Havdalah (“Divisão”): cerimônia judaica de encerramento do Sabbath. Um dos principais símbolos do Havdála é o círio tríplice aceso durante a cerimônia e de onde, a meu ver, toda a imagética do poema deriva. É notória, também, a semelhança com o “Fuso da Necessidade”, como descrito no mito de Er na República de Platão (616b-e), algo já notado por Barbara Wiedemann, editora da obra utilizada nesta tradução.

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Au Lecteur | Ao Leitor

Charles Baudelaire | Robert de Brose

Au Lecteur

1 La sottise, l'erreur, le péché, la lésine,
Occupent nos esprits et travaillent nos corps,
Et nous alimentons nos aimables remords,
Comme les mendiants nourrissent leur vermine.

5 Nos péchés sont têtus, nos repentirs sont lâches;
Nous nous faisons payer grassement nos aveux,
Et nous rentrons gaiement dans le chemin bourbeux,
Croyant par de vils pleurs laver toutes nos taches.

Sur l'oreiller du mal c'est Satan Trismégiste
10 Qui berce longuement notre esprit enchanté,
Et le riche métal de notre volonté
Est tout vaporisé par ce savant chimiste.

C'est le Diable qui tient les fils qui nous remuent!
Aux objets répugnants nous trouvons des appas;
15 Chaque jour vers l'Enfer nous descendons d'un pas,
Sans horreur, à travers des ténèbres qui puent.

Ainsi qu'un débauché pauvre qui baise et mange
Le sein martyrisé d'une antique catin,
Nous volons au passage un plaisir clandestin
20 Que nous pressons bien fort comme une vieille orange.

Serré, fourmillant, comme un million d'helminthes,
Dans nos cerveaux ribote un peuple de Démons,
Et, quand nous respirons, la Mort dans nos poumons
Descend, fleuve invisible, avec de sourdes plaintes.

25 Si le viol, le poison, le poignard, l'incendie,
N'ont pas encor brodé de leurs plaisants dessins
Le canevas banal de nos piteux destins,
C'est que notre âme, hélas! n'est pas assez hardie.

Mais parmi les chacals, les panthères, les lices,
30 Les singes, les scorpions, les vautours, les serpents,
Les monstres glapissants, hurlants, grognants, rampants,
Dans la ménagerie infâme de nos vices,

II en est un plus laid, plus méchant, plus immonde!
Quoiqu'il ne pousse ni grands gestes ni grands cris,
35 Il ferait volontiers de la terre un débris
Et dans un bâillement avalerait le monde;

C'est l'Ennui! L'oeil chargé d'un pleur involontaire,
II rêve d'échafauds en fumant son houka.
Tu le connais, lecteur, ce monstre délicat,
40 — Hypocrite lecteur, — mon semblable, — mon frère!

Ao Leitor

A avareza, o erro, o pecado, a leseira
infestam noss’alma e castigam os corpos,
e alimentamos nossos diletos remorsos,
como os mendigos nutrem suas bicheiras.

Tenazes, os pecados; o arrependimento, infirme,
gorda recompensa nos damos por contrição,
e felizes adentramos o enlameado chão,
crendo um vil pranto lavar nossos crimes.

No recosto do mal, eis Satã Trismesgisto
Que embala longamente noss’ alma encantada
E o rico metal de nossa vontade a um nada
reduz o sábio alquimista com seu flogisto.

É o Diabo que puxa os cordões que nos regem!
Nas coisas repugnantes encontramos repastos
E assim cada dia ao Inferno descemos um passo,
Sem horror, e através das trevas que fedem.

Como um pobre canalha que beija e morde
O seio martirizado de uma anciã vagabunda,
Furtamos de quebra uma satisfação imunda
que, como seca laranja, esprememos tão forte.

Denso, fervilhante, como um milhão de helmintos
nossa cabeça revolve num enxame de Demônios
e, ao respirarmos, a Morte, como um mecônio,
rio invisível, inunda o peito dum choro indistinto.

Se o estupro, o veneno, o punhal, e as chamas,
não bordaram ainda com desenhos tão finos
toda a tela medíocre de nossos destinos,
é porque, oh!, nossa alma não é tão sacana.

Mas dentre os chacais, as hienas e as panteras,
Os macacos, escorpiões, abutres, serpentes,
e os monstros ululantes, rastejantes, frementes,
na mistura infame de nossos vícios e mazelas,

Há um que é o mais feio, enganoso, mais imundo!
Mesmo não fazendo grandes gestos ou gritos,
De bom grado, deixará a terra toda em detritos
E num grande bocejo engolirá o mundo;

É o Enfado! O olho inchado de pura lassidão
Ele sonha com patíbulos fumando seu baseado
Tu o conheces, leitor, esse monstro delicado,
— Leitor fingidor, — meu igual, — meu irmão!

Félicien Rops, Le Songe  (1878-80)


Fonte: Les Fleurs du Mal. Classiques Français. Bookking Internacional: Paris, 1993.


Notas:

1. Primeira versão da tradução: 21 de novembro de 2018.

2. v. 2: influem nos nossos [e castigam os] |  nossa alma [noss’alma]

3. C'est l'Ennui! | É o Enfado!: “Enfado”, além de manter o mesmo padrão acentual do francês, reproduz mimeticamente o suspiro de uma pessoa enfadada com o contorno rítmico f:Ff (cf. “Que saco!” – também f:Ff, ou seja,  inspira/pausa/expira com força); os dois pontos em f:Ff representam um breve alongamento da sílaba terminada em líquida-nasal. A tradução por “Tédio” destruiria, nesse caso, a figura sonora.

4. L'oeil chargé d'un pleur involontaire | O olho inchado de pura lassidão: claramente o olho lacrimeja em virtude da fumaça do houka, que devemos imaginar envolvendo o Enfado. Não consegui chegar (ainda) a uma solução que preserve a imagem, mas fiquei satisfeito com a imagem de que o Enfado, fumando ópio, deve ter os olhos lassos e distantes.

5. son houka | seu baseado: O houka é o que chamaríamos de “narguile”/ “arguile” ou “narguilé”. Desnecessário dizer da dificuldade da rima. Ela não é importante, no entanto, e, além disso, a modernização e o aculturamento dado por “baseado” me pareceu atrativa.

6. Hypocrite lecteur | Leitor fingidor: Um aceno a Fernando Pessoa: não apenas o poeta é um fingidor; o leitor, também por viver vicariamente a real fantasia do poeta, é tão fingidor quanto aquele.

domingo, 28 de outubro de 2018

Tecendo a Manhã | Weaving the Dawn

João Cabral de Melo Neto | Robert de Brose

1

1 Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
5 que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
10 se vá tecendo, entre todos os galos.

2

E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretencendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
15 A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.



1

1 A rooster alone does not weave the dawn:
he will be forever in need of other roosters.
Of another that will catch the crow that he
and fling it to another; of another rooster
5 that catches the crow of a rooster before him
and flings it to another; and of other roosters
that amidst many other roosters criscross
the threads of the sun made of rooster crows,
so that the dawn, from a gauzy gossamer
10 begins to weave itself through all the roosters.

2

Taking shape into a canvass, amidst all,
rising as a tent, which admits of all,
interlacing itself for all, in the shawl
(the dawn) that floats like an empty cocoon.
15 The dawn, a dossel of a fabric so sheer,
that, woven, rises by itself: light balloon.



rooster2 
FONTE: A Educação pela Pedra e depois. Nova Fronteira: São Paulo, 1997.

sábado, 27 de outubro de 2018

A Flor e a Náusea | The Flower and the Nausea

Carlos Drummond de Andrade | Robert de Brose

1 Preso à minha classe e a algumas roupas,
    vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias, espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me?

5 Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
10 fundem-se no mesmo impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.

15 Vomitar este tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
20 Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
25 Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
30 Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.

Uma flor nasceu na rua!
35 Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

40 Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
45 e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

1 Stuck to my class and some clothes,
    dressed in white I go through the gray street.
Melancholies, commodities spy on me.
Shall I go on until I get sick?
Can I, without weapons, revolt?

5 Dirty eyes on the spire clock:
No, time’s not yet come of full justice.
Time is still of feces, bad poems, hallucinations and waiting.
The poor time, the poor poet
10 fuse into the same impasse.

In vain I try to explain myself, the walls are deaf.
Under the skin, there are ciphers, codes.
The sun gives solace to the sick and renew them not.
Things. How sad are things considered without emphasis.

15 To throw up this boredom over the city.
Fourty years and no problem
solved, not even put.
No letter written or received.
All men come back home.
20 They are less free, but carry newspapers
and spell the world, knowing they lose it.

Crimes of the land, how to forgive them?
I took part in a lot, others I hid.
Some I found beautiful, were published.
25 Soft crimes that help to live.
Daily ration of errors, shared at home.
The ferocious bakers of evil.
The ferocious milkmen of evil.

To set everything on fire, including me.
30 The 1918 boy they called an anarchist.
But my hate is the best part of me.
Through it I save myself
and give a few a shred of hope.

A flower was born on the street!
35 Tramcars, stay clear, buses, steel river of traffic.
A flower still wan
tricks the police, has broken through the asphalt.
Let all be still, let transactions cease,
I guarantee a flower was born.

40 Its color, imperceptible.
Its petals, they do no open.
Its name, it is not in the books.
It is ugly. But it is indeed a flower.

I sit on the ground in my country’s capital, five o’clock in the afternoon,
45 and slowly move my hand over this insecure form.
Over the mountains, thick clouds gather.
Little white dots move on the sea, startled chickens.
It’s ugly. But it’s a flower. It bore through the asphalt, the boredom,
    [the disgust, and the hatred.


FONTE: Antologia Poética – 12a edição – Rio de Janeiro: José Olympio, 1978, p. 14-16.

sábado, 6 de outubro de 2018

नासदीय सूक्तः | Nāsadīya Sūkta | Hino da Criação (Ṛgveda 10.129)

anônimo | Robert de Brose

नासदासीन नो सदासीत तदानीं
नासीद रजो नो वयोमापरो यत |
किमावरीवः कुह कस्य शर्मन्न्
आम्भः किमासीद गहनं गभीरम ||

न मर्त्युरासीदम्र्तं न तर्हि
न रात्र्या अह्न आसीत्प्रकेतः |
आनीदवातं सवधया तदेकं
तस्माद्धान्यन न परः किं चनास ||

तम आसीत तमसा गूळमग्रे
ऽप्रकेतं सलिलं सर्वमा इदम |
तुछ्येनाभ्वपिहितं यदासीत
तपसस्तन्महिनाजायतैकम ||

कामस्तदग्रे समवर्तताधि
मनसो रेतः परथमं यदासीत |
सतो बन्धुमसति निरविन्दन
हर्दि परतीष्याकवयो मनीषा ||

तिरश्चीनो विततो रश्मिरेषाम्
अधः सविदासी३ दुपरि स्विदासी३त् |
रेतोधाासन महिमान आसन
सवधा अवस्तात परयतिः परस्तात ||

को अद्धा वेद क इह पर वोचत
कुत आजाता कुत इयंविस्र्ष्टिः |
अर्वाग देवा अस्य विसर्जनेना-
था को वेद यताबभूव ||

इयं विस्र्ष्टिर्यत आबभूव
यदि वा दधे यदि वा न |
यो अस्याध्यक्षः परमे वयोमन
सो अङग वेद यदि वा नवेद ||

nāsadāsīn no sadāsīt tadānīṃ
nāsīd rajo no vyomāparo yat |
kimāvarīvaḥ kuha kasya śarmanna
ambhaḥ kimāsīd ghahanaṃ ghabhīram ||

na mṛtyurāsīdamṛtaṃ na tarhi
na rātryā ahna āsītpraketaḥ |
ānīdavātaṃ svadhayā tadekaṃ
tasmāddhānyan na paraḥ kiṃ canāsa ||

tama āsīt tamasā ghūḷamaghre
’praketaṃ salilaṃ sarvamāidam |
tuchyenābhvapihitaṃ yadāsīt
tapasastanmahinājāyataikam ||

kāmastadaghre samavartatādhi
manaso retaḥ prathamaṃ yadāsīt |
sato bandhumasati niravindan
hṛdi pratīṣyākavayo manīṣā ||

tiraścīno vitato raśmireṣām
adhaḥ svidāsī3duparisvidāsī3t |
retodhāāsan mahimāna āsan
svadhā avastāt prayatiḥ parastāt ||

ko addhā veda ka iha pra vocat
kuta ājātā kuta iyaṃvisṛṣṭiḥ |
arvāgh devā asya visarjanena-
athā ko veda yataābabhūva ||

iyaṃ visṛṣṭiryata ābabhūva
yadi vā dadhe yadi vā na |
yo asyādhyakṣaḥ parame vyoman
so aṅgha veda yadi vā naveda ||

O existente não havia, nem o inexistente, então.
Não havia um dossel, nem este céu além.
O que encobria? Onde? Sob que proteção?
Água, havia? profunda profundeza?

Não havia a Morte, nem imortalidade ainda;
nem da noite, nem do dia, os luminares.
Respirou sem ar e por si mesmo o Um;
Outro que este nem além deste, nada havia.

Escuridão envolta em escuridão no início,
imanifesta, inundante, por todo o espaço.
Envolto em nada, O Que Vem do Nada havia;
pela magia do calor fez-se nascer o Um.

O desejo no princípio surgiu a partir
da mente, a prima semente que existiu.
O elo entre o existente e o inexistente acharam
no coração poetas buscando sábia-mente.

Uma réstia estenderam horizontalmente.
Será que havia acima...? havia abaixo...?
houve inseminadores e fecúndia houve,
poderio acima, oferecimento abaixo.

Quem irá saber? Quem aqui pode dizer?
de onde nasceu? de onde esta criação?
Depois da expansão vieram os deuses,
então quem poderá saber donde ela surgiu?

Essa criação e de onde ela surgiu
se ele a incentivou ou se ele não
ele que disto cuida no mais alto céu,
ele sim sabe, ou se ele não sabe...

FONTE: Ṛgveda, Mandala 10, Hino 129 – Sacred Texts

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Eldorado | Eldorado

Edgar Allan Poe | Robert de Brose


Gaily bedight,
A gallant knight,
In sunshine and in shadow,
Had journeyed long,
5 Singing a song,
In search of Eldorado.

But he grew old—
This knight so bold—
And o’er his heart a shadow—
10 Fell as he found
No spot of ground
That looked like Eldorado.

And, as his strength
Failed him at length,
15 He met a pilgrim shadow—
‘Shadow,’ said he,
‘Where can it be—
This land of Eldorado?’

‘Over the Mountains
20 Of the Moon,
Down the Valley of the Shadow,  
Ride, boldly ride,’
The shade replied,—
‘If you seek for Eldorado!’

Belo e faceiro
um gentil cavaleiro
Sob o sol e pela sombra
Viajara tanto
5 Cantando um canto
Em busca de Eldorado.

Mas a idade chegou—
e o jovem cansou—
E seu coração uma sombra—
10 fria cobriu,
pois nunca viu
nem rastro de Eldorado.

E quando perdeu
o ânimo seu,
15 Errante Sombra cruzou—
'Sombra', ele disse,
'Onde é que existe—
Esse tal de Eldorado?'

'Sobre as Montanhas
20 no alto da Lua,
Da Sombra, no Vale abaixo,
'Ronda, altivo ronda'
disse-lhe a Sombra,—
'Se buscas por Eldorado!'

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Albrecht Dürer, Knight, Death and the Devil, 1513, engraving, 24.5 x 19.1 cm.


FONTE: The Complete Poems and Stories of Edgar Allan Poe (1946) - Poetry Foundation.

EDIÇÕES:

5 Outubro 2018: v. 15 “cruzou” [o achou]

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Liberdade | Freedom

Carlos Drummond de Andrade | Robert de Brose

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O pássaro é livre
na prisão do ar.
O espírito é livre
na prisão do corpo.
Mas livre, bem livre,
é mesmo estar morto


The bird is free
in prision’s air.
The spirit is free
in the body clad.
But to be free, fully free,
is really to be dead.

Evandro Carlos Jardim, Sobre o Voo dos Pássaros (On the
Flight of Birds), metal engraving, 50x60 cm, São Paulo.

FONTE: Carlos Drummond de Andrade, Farewell. Rio de Janeiro: Record, 1996, p. 70.

terça-feira, 2 de outubro de 2018

Μυθιστόρημα | Mitoestoria

Giorgos Seféris | Robert de Brose


Si j᾿ ai du gout, ce n᾿ est guère
Que pour la terre et les pierres
1.

Arthur Rimbaud

Α´

Τὸν ἄγγελο
τὸν περιμέναμε προσηλωμένοι τρία χρόνια
κοιτάζοντας πολὺ κοντὰ
τὰ πεῦκα τὸ γιαλὸ καὶ τ᾿ ἄστρα.
5 Σμίγοντας τὴν κόψη τ᾿ ἀλετριοῦ
ἢ τοῦ καραβιοῦ τὴν καρένα
ψάχναμε νὰ βροῦμε πάλι τὸ πρῶτο σπέρμα
γιὰ νὰ ξαναρχίσει τὸ πανάρχαιο δράμα.

Γυρίσαμε στὰ σπίτια μας τσακισμένοι
μ᾿ ἀνήμπορα μέλη, μὲ τὸ στόμα ρημαγμένο
ἀπὸ τὴ γέψη τῆς σκουριᾶς καὶ τῆς ἁρμύρας.
Ὅταν ξυπνήσαμε ταξιδέψαμε κατὰ τὸ βοριά, ξένοι
βυθισμένοι μέσα σὲ καταχνιὲς ἀπὸ τ᾿ ἄσπιλα φτερὰ τῶν κύκνων
          [ποὺ μᾶς πληγώναν.
Τὶς χειμωνιάτικες νύχτες μᾶς τρέλαινε ὁ δυνατὸς ἀγέρας τῆς ἀνατολῆς
τὰ καλοκαίρια χανόμασταν μέσα στὴν ἀγωνία τῆς μέρας
          [ποὺ δὲν μποροῦσε νὰ ξεψυχήσει.

Φέραμε πίσω
αὐτὰ τ᾿ ἀνάγλυφα μιᾶς τέχνης ταπεινῆς.

Β´

Ἀκόμη ἕνα πηγάδι μέσα σὲ μιὰ σπηλιά.
Ἄλλοτε μᾶς ἦταν εὔκολο ν᾿ ἀντλήσουμε εἴδωλα καὶ στολίδια
γιὰ νὰ χαροῦν οἱ φίλοι ποὺ μᾶς ἔμεναν ἀκόμη πιστοί.
Ἔσπασαν τὰ σκοινιὰ μονάχα οἱ χαρακιὲς στοῦ πηγαδιοῦ τὸ στόμα
μᾶς θυμίζουν τὴν περασμένη μας εὐτυχία:
τὰ δάχτυλα στὸ φιλιατρό, καθὼς ἔλεγε ὁ ποιητής2.
Τὰ δάχτυλα νιώθουν τὴ δροσιὰ τῆς πέτρας λίγο
κι ἡ θέρμη τοῦ κορμιοῦ τὴν κυριεύει
κι ἡ σπηλιὰ παίζει τὴν ψυχή της καὶ τὴ χάνει
κάθε στιγμή, γεμάτη σιωπή, χωρὶς μία στάλα.

Γ´

Μέμνησο λουτρῶν οἷς ἐνοσφίσθης3.

Ξύπνησα μὲ τὸ μαρμάρινο τοῦτο κεφάλι στὰ χέρια
ποὺ μοῦ ἐξαντλεῖ τοὺς ἀγκῶνες καὶ δὲν ξέρω ποῦ νὰ
τ᾿ ἀκουμπήσω.
Ἔπεφτε τὸ ὄνειρο καθὼς ἔβγαινα ἀπὸ τὸ ὄνειρο
ἔτσι ἑνώθηκε ἡ ζωή μας καὶ θὰ εἶναι πολὺ δύσκολο νὰ ξαναχωρίσει.

Κοιτάζω τὰ μάτια. Μήτε ἀνοιχτὰ μήτε κλειστὰ
μιλῶ στὸ στόμα ποὺ ὅλο γυρεύει νὰ μιλήσει
κρατῶ τὰ μάγουλα ποὺ ξεπέρασαν τὸ δέρμα.

Δὲν ἔχω ἄλλη δύναμη
τὰ χέρια μου χάνουνται καὶ μὲ πλησιάζουν
ἀκρωτηριασμένα.

Δ´
ΑΡΓΟΝΑΥΤΕΣ

Καὶ ψυχὴ
εἰ μέλλει γνώσεσθαι αὐτὴν
εἰς ψυχὴν
αὐτὴ βλεπτέον:
τὸν ξένο καὶ τὸν ἐχθρὸ τὸν εἴδαμε στὸν καθρέφτη4.
Ἤτανε καλὰ παιδιὰ οἱ σύντροφοι, δὲ φωνάζαν
οὔτε ἀπὸ τὸν κάματο οὔτε ἀπὸ τὴ δίψα οὔτε ἀπὸ τὴν παγωνιά,
εἴχανε τὸ φέρσιμο τῶν δέντρων καὶ τῶν κυμάτων
ποὺ δέχουνται τὸν ἄνεμο καὶ τὴ βροχὴ
δέχουνται τὴ νύχτα καὶ τὸν ἥλιο
χωρὶς ν᾿ ἀλλάζουν μέσα στὴν ἀλλαγή.
Ἤτανε καλὰ παιδιά, μέρες ὁλόκληρες
ἵδρωναν στὸ κουπὶ μὲ χαμηλωμένα μάτια
ἀνασαίνοντας μὲ ρυθμὸ
καὶ τὸ αἷμα τοὺς κοκκίνιζε ἕνα δέρμα ὑποταγμένο.
Κάποτε τραγούδησαν, μὲ χαμηλωμένα μάτια
ὅταν περάσαμε τὸ ἐρημόνησο μὲ τὶς ἀραποσυκιὲς
κατὰ τὴ δύση, πέρα ἀπὸ τὸν κάβο τῶν σκύλων
ποὺ γαβγίζουν.
Εἰ μέλλει γνώσεσθαι αὐτήν, ἔλεγαν
εἰς ψυχὴν βλεπτέον, ἔλεγαν
καὶ τὰ κουπιὰ χτυποῦσαν τὸ χρυσάφι τοῦ πελάγου
μέσα στὸ ἡλιόγερμα.
Περάσαμε κάβους πολλοὺς πολλὰ νησιὰ τὴ θάλασσα
ποὺ φέρνει τὴν ἄλλη θάλασσα, γλάρους καὶ φώκιες.
Δυστυχισμένες γυναῖκες κάποτε μὲ ὀλολυγμοὺς
κλαίγανε τὰ χαμένα τους παιδιὰ
κι ἄλλες ἀγριεμένες γύρευαν τὸ Μεγαλέξαντρο
καὶ δόξες βυθισμένες στὰ βάθη τῆς Ἀσίας.
Ἀράξαμε σ᾿ ἀκρογιαλιὲς γεμάτες ἀρώματα νυχτερινὰ
μὲ κελαηδίσματα πουλιῶν, νερὰ ποὺ ἀφήνανε στὰ χέρια
τὴ μνήμη μιᾶς μεγάλης εὐτυχίας.
Μὰ δὲν τελειῶναν τὰ ταξίδια.
Οἱ ψυχές τους ἔγιναν ἕνα με τὰ κουπιὰ καὶ τοὺς σκαρμοὺς
μὲ τὸ σοβαρὸ πρόσωπο τῆς πλώρης
μὲ τ᾿ αὐλάκι τοῦ τιμονιοῦ
μὲ τὸ νερὸ ποὺ ἔσπαζε τὴ μορφή τους.
Οἱ σύντροφοι τέλειωσαν μὲ τὴ σειρά,
μὲ χαμηλωμένα μάτια. Τὰ κουπιά τους
δείχνουν τὸ μέρος ποὺ κοιμοῦνται στ᾿ ἀκρογιάλι5.
Κανεὶς δὲν τοὺς θυμᾶται. Δικαιοσύνη.

Ε´

Δὲν τοὺς γνωρίσαμε ἦταν ἡ ἐλπίδα στὸ βάθος ποὺ ἔλεγε
πὼς τοὺς εἴχαμε γνωρίσει ἀπὸ μικρὰ παιδιά.
Τοὺς εἴδαμε ἴσως δυὸ φορὲς κι ἔπειτα πῆραν τὰ καράβια,
φορτία κάρβουνο, φορτία γεννήματα, κι οἱ φίλοι μας
χαμένοι πίσω ἀπὸ τὸν ὠκεανὸ παντοτινά.
Ἡ αὐγὴ μᾶς βρίσκει πλάι στὴν κουρασμένη λάμπα
νὰ γράφουμε ἀδέξια καὶ μὲ προσπάθεια στὸ χαρτὶ
πλεούμενα γοργόνες ἢ κοχύλια
τὸ ἀπόβραδο κατεβαίνουμε στὸ ποτάμι
γιατὶ μᾶς δείχνει τὸ δρόμο πρὸς τὴ θάλασσα,
καὶ περνοῦμε τὶς νύχτες σὲ ὑπόγεια ποὺ μυρίζουν κατράμι.
Οἱ φίλοι μας ἔφυγαν ἴσως νὰ μὴν τοὺς εἴδαμε ποτές, ἴσως
νὰ τοὺς συναπαντήσαμε ὅταν ἀκόμη ὁ ὕπνος
μᾶς ἔφερνε πολὺ κοντὰ στὸ κύμα ποὺ ἀνασαίνει
ἴσως νὰ τοὺς γυρεύουμε γιατὶ γυρεύουμε τὴν ἄλλη ζωή,
πέρα ἀπὸ τ᾿ ἀγάλματα.

ΣΤ´
Μ. Ρ.6

Τὸ περιβόλι μὲ τὰ συντριβάνια του στὴ βροχὴ
θὰ τὸ βλέπεις μόνο ἀπὸ τὸ χαμηλὸ παράθυρο
πίσω ἀπὸ τὸ θολὸ τζάμι. Ἡ κάμαρά σου
θὰ φωτίζεται μόνο ἀπὸ τὴ φλόγα τοῦ τζακιοῦ
καὶ κάποτε, στὶς μακρινὲς ἀστραπὲς θὰ φαίνουνται
οἱ ρυτίδες τοῦ μετώπου σου, παλιέ μου φίλε.
Τὸ περιβόλι μὲ τὰ συντριβάνια ποὺ ἦταν στὸ χέρι σου
ρυθμὸς τῆς ἄλλης ζωῆς, ἔξω ἀπὸ τὰ σπασμένα
μάρμαρα καὶ τὶς κολόνες τὶς τραγικὲς
κι ἕνας χορὸς μέσα στὶς πικροδάφνες
κοντὰ στὰ καινούργια λατομεῖα,
ἕνα γυαλὶ θαμπὸ θὰ τὄ ῾χει κόψει ἀπὸ τὶς ὦρες σου.
Δὲ θ᾿ ἀνασάνεις, τὸ χῶμα κι ὁ χυμὸς τῶν δέντρων
θὰ ὁρμοῦν ἀπὸ τὴ μνήμη σου γιὰ νὰ χτυπήσουν
πάνω στὸ τζάμι αὐτὸ ποὺ τὸ χτυπᾶ ἡ βροχὴ
ἀπὸ τὸν ἔξω κόσμο.

Ζ´
ΝΟΤΙΑΣ

Τὸ πέλαγο σμίγει κατὰ τὴ δύση μία βουνοσειρά.
Ζερβά μας ὁ νοτιᾶς φυσάει καὶ μᾶς τρελαίνει,
αὐτὸς ὁ ἀγέρας ποὺ γυμνώνει τὰ κόκαλα ἀπ᾿ τὴ σάρκα.
Τὸ σπίτι μας μέσα στὰ πεῦκα καὶ στὶς χαρουπιές.
Μεγάλα παράθυρα. Μεγάλα τραπέζια
γιὰ νὰ γράφουμε τὰ γράμματα ποὺ σοῦ γράφουμε
τόσους μῆνες καὶ τὰ ρίχνουμε
μέσα στὸν ἀποχωρισμὸ γιὰ νὰ γεμίσει.

Ἄστρο τῆς αὐγῆς, ὅταν χαμήλωνες τὰ μάτια
οἱ ὦρες μας ἦταν πιὸ γλυκιὲς ἀπὸ τὸ λάδι
πάνω στὴν πληγή, πιὸ πρόσχαρες ἀπὸ τὸ κρύο νερὸ
στὸν οὐρανίσκο, πιὸ γαλήνιες ἀπὸ τὰ φτερὰ τοῦ κύκνου.
Κρατοῦσες τὴ ζωή μας στὴν παλάμη σου.
Ὕστερα ἀπὸ τὸ πικρὸ ψωμὶ τῆς ξενιτιᾶς
τὴ νύχτα ἂν μείνουμε μπροστὰ στὸν ἄσπρο τοῖχο
ἡ φωνή σου μᾶς πλησιάζει σὰν ἔλπιση φωτιᾶς
καὶ πάλι αὐτὸς ὁ ἀγέρας ἀκονίζει
πάνω στὰ νεῦρα μας ἕνα ξυράφι.

Σοῦ γράφουμε ὁ καθένας τὰ ἴδια πράματα
καὶ σωπαίνει ὁ καθένας μπρὸς στὸν ἄλλον
κοιτάζοντας, ὁ καθένας, τὸν ἴδιο κόσμο χωριστὰ
τὸ φῶς καὶ τὸ σκοτάδι στὴ βουνοσειρὰ
κι ἐσένα.

Ποιὸς θὰ σηκώσει τὴ θλίψη τούτη ἀπ᾿ τὴν καρδιά μας;
Χτὲς βράδυ μία νεροποντὴ καὶ σήμερα
βαραίνει πάλι ὁ σκεπασμένος οὐρανός. Οἱ στοχασμοί μας
σὰν τὶς πευκοβελόνες τῆς χτεσινῆς νεροποντῆς
στὴν πόρτα τοῦ σπιτιοῦ μας μαζεμένοι κι ἄχρηστοι
θέλουν νὰ χτίσουν ἕναν πύργο ποὺ γκρεμίζει.

Μέσα σὲ τοῦτα τὰ χωριὰ τ᾿ ἀποδεκατισμένα
πάνω σ᾿ αὐτὸ τὸν κάβο, ξέσκεπο στὸ νοτιὰ
μὲ τὴ βουνοσειρὰ μπροστά μας ποὺ σὲ κρύβει,
ποιὸς θὰ μᾶς λογαριάσει τὴν ἀπόφαση τῆς λησμονιᾶς;
Ποιὸς θὰ δεχτεῖ τὴν προσφορά μας, στὸ τέλος αὐτὸ τοῦ φθινοπώρου.

H´

Μὰ τί γυρεύουν οἱ ψυχές μας ταξιδεύοντας
πάνω σὲ καταστρώματα κατελυμένων καραβιῶν
στριμωγμένες μὲ γυναῖκες κίτρινες καὶ μωρὰ ποὺ κλαῖνε
χωρὶς νὰ μποροῦν νὰ ξεχαστοῦν οὔτε μὲ τὰ χελιδονόψαρα
οὔτε μὲ τ᾿ ἄστρα ποὺ δηλώνουν στὴν ἄκρη τὰ κατάρτια.
Τριμμένες ἀπὸ τοὺς δίσκους τῶν φωνογράφων
δεμένες ἄθελα μ᾿ ἀνύπαρχτα προσκυνήματα
μουρμουρίζοντας σπασμένες σκέψεις ἀπὸ ξένες γλῶσσες.

Μὰ τί γυρεύουν οἱ ψυχές μας ταξιδεύοντας
πάνω στὰ σαπισμένα θαλάσσια ξύλα
ἀπὸ λιμάνι σὲ λιμάνι;

Μετακινώντας τσακισμένες πέτρες, ἀνασαίνοντας
τὴ δροσιὰ τοῦ πεύκου πιὸ δύσκολα κάθε μέρα,
κολυμπώντας στὰ νερὰ τούτης τῆς θάλασσας
κι ἐκείνης τῆς θάλασσας,
χωρὶς ἁφὴ
χωρὶς ἀνθρώπους
μέσα σε μία πατρίδα ποὺ δὲν εἶναι πιὰ δική μας
οὔτε δική σας.

Τὸ ξέραμε πὼς ἦταν ὡραῖα τὰ νησιὰ
κάπου ἐδῶ τριγύρω ποὺ ψηλαφοῦμε
λίγο πιὸ χαμηλὰ ἢ λίγο πιὸ ψηλὰ
ἕνα ἐλάχιστο διάστημα.

Θ´

Εἶναι παλιὸ τὸ λιμάνι, δὲν μπορῶ πιὰ νὰ περιμένω
οὔτε τὸ φίλο ποὺ ἔφυγε στὸ νησὶ μὲ τὰ πεῦκα
οὔτε τὸ φίλο ποὺ ἔφυγε στὸ νησὶ μὲ τὰ πλατάνια
οὔτε τὸ φίλο ποὺ ἔφυγε γιὰ τ᾿ ἀνοιχτά.
Χαϊδεύω τὰ σκουριασμένα κανόνια, χαϊδεύω τὰ κουπιὰ
νὰ ζωντανέψει τὸ κορμί μου καὶ ν᾿ ἀποφασίσει.
Τὰ καραβόπανα δίνουν μόνο τὴ μυρωδιὰ
τοῦ ἁλατιοῦ τῆς ἄλλης τρικυμίας.

Ἂν τὸ θέλησα νὰ μείνω μόνος, γύρεψα
τὴ μοναξιά, δὲ γύρεψα μία τέτοια ἀπαντοχή,
τὸ κομμάτιασμα τῆς ψυχῆς μου στὸν ὁρίζοντα,
αὐτὲς τὶς γραμμές, αὐτὰ τὰ χρώματα, αὐτὴ τὴ σιγή.

Τ᾿ ἄστρα τῆς νύχτας μὲ γυρίζουν στὴν προσδοκία
τοῦ Ὀδυσσέα γιὰ τοὺς νεκροὺς μὲς στ᾿ ἀσφοδίλια.
Μὲς στ᾿ ἀσφοδίλια σὰν ἀράξαμε ἐδῶ-πέρα θέλαμε νὰ βροῦμε
τὴ λαγκαδιὰ ποὺ εἶδε τὸν Ἅδωνι λαβωμένο.

Ι´

Ὁ τόπος μας εἶναι κλειστός, ὅλο βουνὰ
ποὺ ἔχουν σκεπὴ τὸ χαμηλὸ οὐρανὸ μέρα καὶ νύχτα.
Δὲν ἔχουμε ποτάμια δὲν ἔχουμε πηγάδια δὲν ἔχουμε πηγές,
μονάχα λίγες στέρνες, ἄδειες κι αὐτές, ποὺ ἠχοῦν καὶ ποὺ τὶς προσκυνοῦμε.
Ἦχος στεκάμενος κούφιος, ἴδιος με τὴ μοναξιά μας
ἴδιος με τὴν ἀγάπη μας, ἴδιος με τὰ σώματά μας.
Μᾶς φαίνεται παράξενο ποὺ κάποτε μπορέσαμε νὰ χτίσουμε
τὰ σπίτια τὰ καλύβια καὶ τὶς στάνες μας.
Κι οἱ γάμοι μας, τὰ δροσερὰ στεφάνια καὶ τὰ δάχτυλα
γίνουνται αἰνίγματα ἀνεξήγητα γιὰ τὴν ψυχή μας.
Πῶς γεννήθηκαν πῶς δυναμώσανε τὰ παιδιά μας;

Ὁ τόπος μας εἶναι κλειστός. Τὸν κλείνουν
οἱ δυὸ μαῦρες Συμπληγάδες7. Στὰ λιμάνια
τὴν Κυριακὴ σὰν κατεβοῦμε ν᾿ ἀνασάνουμε
βλέπουμε νὰ φωτίζουνται στὸ ἡλιόγερμα
σπασμένα ξύλα ἀπὸ ταξίδια ποὺ δὲν τέλειωσαν
σώματα ποὺ δὲν ξέρουν πιὰ πῶς ν᾿ ἀγαπήσουν.


ΙΑ´

Τὸ αἷμα σου πάγωνε κάποτε σὰν τὸ φεγγάρι,
μέσα στὴν ἀνεξάντλητη νύχτα τὸ αἷμα σου
ἅπλωνε τὶς ἄσπρες του φτεροῦγες πάνω
στοὺς μαύρους βράχους τὰ σχήματα τῶν δέντρων καὶ τὰ σπίτια
μὲ λίγο φῶς ἀπὸ τὰ παιδικά μας χρόνια.

ΙΒ´
Μποτίλια στὸ πέλαγο

Τρεῖς βράχοι λίγα καμένα πεῦκα κι ἕνα ρημοκλήσι
καὶ παραπάνω
τὸ ἴδιο τοπίο ἀντιγραμμένο ξαναρχίζει
τρεῖς βράχοι σὲ σχῆμα πύλης, σκουριασμένοι
λίγα καμένα πεῦκα, μαῦρα καὶ κίτρινα
κι ἕνα τετράγωνο σπιτάκι θαμμένο στὸν ἀσβέστη
καὶ παραπάνω ἀκόμη πολλὲς φορὲς
τὸ ἴδιο τοπίο ξαναρχίζει κλιμακωτὰ
ὡς τὸν ὁρίζοντα ὡς τὸν οὐρανὸ ποὺ βασιλεύει.

Ἐδῶ ἀράξαμε τὸ καράβι νὰ ματίσουμε τὰ σπασμένα κουπιά,
νὰ πιοῦμε νερὸ καὶ νὰ κοιμηθοῦμε.
Ἡ θάλασσα ποὺ μᾶς πίκρανε εἶναι βαθιὰ κι ἀνεξερεύνητη
καὶ ξεδιπλώνει μίαν ἀπέραντη γαλήνη.
Ἐδῶ μέσα στὰ βότσαλα βρήκαμε ἕνα νόμισμα
καὶ τὸ παίξαμε στὰ ζάρια.
Τὸ κέρδισε ὁ μικρότερος καὶ χάθηκε8.

Ξαναμπαρκάραμε μὲ τὰ σπασμένα μας κουπιά.

ΙΓ´
Ὕδρα

Δελφίνια φλάμπουρα καὶ κανονιές.
Τὸ πέλαγο τόσο πικρὸ γιὰ τὴν ψυχή σου κάποτε,
σήκωνε τὰ πολύχρωμα κι ἀστραφτερὰ καράβια
λύγιζε, τὰ κλυδώνιζε κι ὅλο μαβὶ μ᾿ ἄσπρα φτερά,
τόσο πικρὸ γιὰ τὴν ψυχή σου κάποτε
τώρα γεμάτο χρώματα στὸν ἥλιο.

Ἄσπρα πανιὰ καὶ φῶς καὶ τὰ κουπιὰ τὰ ὑγρὰ
χτυποῦσαν μὲ ρυθμὸ τυμπάνου ἕνα ἡμερωμένο κύμα.

Θὰ ἦταν ὡραῖα τὰ μάτια σου νὰ κοίταζαν
θὰ ἦταν λαμπρὰ τὰ χέρια σου ν᾿ ἀπλώνουνταν
θὰ ἦταν σὰν ἄλλοτε ζωηρὰ τὰ χείλια σου
μπρὸς σ᾿ ἕνα τέτοιο θάμα
τὸ γύρευες
τί γύρευες μπροστὰ στὴ στάχτη
ἢ μέσα στὴ βροχὴ στὴν καταχνιὰ στὸν ἄνεμο,
τὴν ὥρα ἀκόμη ποὺ χαλάρωναν τὰ φῶτα
κι ἡ πολιτεία βύθιζε κι ἀπὸ τὶς πλάκες
σοῦ ῾δειχνε τὴν καρδιά του ὁ Ναζωραῖος,
τί γύρευες; γιατί δὲν ἔρχεσαι; τί γύρευες;


ΙΔ´

Τρία κόκκινα περιστέρια μέσα στὸ φῶς
χαράζοντας τὴ μοίρα μας μέσα στὸ φῶς
μὲ χρώματα καὶ χειρονομίες ἀνθρώπων
ποὺ ἀγαπήσαμε.

ΙΕ´
Quid πλατανῶν opacissimus?9

Ὁ ὕπνος σὲ τύλιξε, σὰν ἕνα δέντρο, μὲ πράσινα φύλλα,
ἀνάσαινες, σὰν ἕνα δέντρο, μέσα στὸ ἥσυχο φῶς,
μέσα στὴ διάφανη πηγὴ κοίταξα τὴ μορφή σου
κλεισμένα βλέφαρα καὶ τὰ ματόκλαδα χάραζαν τὸ νερό.
Τὰ δάχτυλά μου στὸ μαλακὸ χορτάρι, βρῆκαν τὰ δάχτυλά σου
κράτησα τὸ σφυγμό σου μιὰ στιγμὴ
κι ἔνιωσα ἀλλοῦ τὸν πόνο τῆς καρδιᾶς σου.

Κάτω ἀπὸ τὸ πλατάνι, κοντὰ στὸ νερό, μέσα στὶς δάφνες
ὁ ὕπνος σὲ μετακινοῦσε καὶ σὲ κομμάτιαζε
γύρω μου, κοντά μου, χωρὶς νὰ μπορῶ νὰ σ᾿ ἀγγίξω ὁλόκληρη,
ἑνωμένη μὲ τὴ σιωπή σου
βλέποντας τὸν ἴσκιο σου νὰ μεγαλώνει καὶ νὰ μικραίνει,
νὰ χάνεται στοὺς ἄλλους ἴσκιους, μέσα στὸν ἄλλο
κόσμο ποὺ σ᾿ ἄφηνε καὶ σὲ κρατοῦσε.

Τὴ ζωὴ ποὺ μᾶς ἔδωσαν νὰ ζήσουμε, τὴ ζήσαμε.
Λυπήσου ἐκείνους ποὺ περιμένουν μὲ τόση ὑπομονὴ
χαμένοι μέσα στὶς μαῦρες δάφνες κάτω ἀπὸ τὰ βαριὰ πλατάνια
κι ὅσους μονάχοι τους μιλοῦν σὲ στέρνες καὶ σὲ πηγάδια
καὶ πνίγουνται μέσα στοὺς κύκλους τῆς φωνῆς.
Λυπήσου τὸ σύντροφο ποὺ μοιράστηκε τὴ στέρησή μας καὶ τὸν ἱδρώτα
καὶ βύθισε μέσα στὸν ἥλιο σὰν κοράκι πέρα ἀπ᾿ τὰ μάρμαρα,
χωρὶς ἐλπίδα νὰ χαρεῖ τὴν ἀμοιβή μας.

Δῶσε μας, ἔξω ἀπὸ τὸν ὕπνο, τὴ γαλήνη.


ΙΣΤ´
ὄνομα δ᾿ Ὀρέστης10

Στὴ σφενδόνη, πάλι στὴ σφενδόνη, στὴ σφενδόνη,
πόσοι γύροι, πόσοι αἱμάτινοι κύκλοι, πόσες μαῦρες
σειρές. Οἱ ἄνθρωποι ποὺ μὲ κοιτάζουν,
ποὺ μὲ κοιτάζαν ὅταν πάνω στὸ ἅρμα
σήκωσα τὸ χέρι λαμπρός, κι ἀλάλαξαν.

Οἱ ἀφροὶ τῶν ἀλόγων μὲ χτυποῦν, τ᾿ ἄλογα πότε θ᾿ ἀποστάσουν;
Τρίζει ὁ ἄξονας, πυρώνει ὁ ἄξονας, πότε ὁ ἄξονας θ᾿ ἀνάψει;
Πότε θὰ σπάσουν τὰ λουριά, πότε τὰ πέταλα
θὰ πατήσουν μ᾿ ὅλο τὸ πλάτος πάνω στὸ χῶμα
πάνω στὸ μαλακὸ χορτάρι, μέσα στὶς παπαροῦνες ὅπου
τὴν ἄνοιξη μάζεψες μία μαργαρίτα.
Ἦταν ὡραῖα τὰ μάτια σου μὰ δὲν ἤξερες ποὺ νὰ κοιτάξεις
δὲν ἤξερα ποὺ νὰ κοιτάξω μήτε κι ἐγώ, χωρὶς πατρίδα
ἐγὼ ποὺ μάχομαι ἐδῶ-πέρα, πόσοι γύροι;
καὶ νιώθω τὰ γόνατα νὰ λυγίζουν πάνω στὸν ἄξονα
πάνω στὶς ρόδες πάνω στὸν ἄγριο στίβο,
τὰ γόνατα λυγίζουν εὔκολα σὰν τὸ θέλουν οἱ θεοί,
κανεὶς δὲν μπορεῖ νὰ ξεφύγει, τί νὰ τὴν κάνεις τὴ δύναμη, δὲν μπορεῖς
νὰ ξεφύγεις τὴ θάλασσα ποὺ σὲ λίκνισε καὶ ποὺ γυρεύεις
τούτη τὴν ὥρα τῆς ἀμάχης, μέσα στὴν ἀλογίσια ἀνάσα,
μὲ τὰ καλάμια ποὺ τραγουδοῦσαν τὸ φθινόπωρο σὲ τρόπο λυδικό,
τὴ θάλασσα ποὺ δὲν μπορεῖς νὰ βρεῖς ὅσο κι ἂν τρέχεις
ὅσο κι ἂν γυρίζεις μπροστὰ στὶς μαῦρες Εὐμενίδες ποὺ βαριοῦνται,
χωρὶς συχώρεση.

ΙΖ´
Ἀστυάναξ

Τώρα ποὺ θὰ φύγεις πάρε μαζί σου καὶ τὸ παιδὶ
ποὺ εἶδε τὸ φῶς κάτω ἀπὸ ἐκεῖνο τὸ πλατάνι,
μιὰ μέρα ποὺ ἀντηχοῦσαν σάλπιγγες καὶ ἔλαμπαν ὅπλα
καὶ τ᾿ ἄλογα ἱδρωμένα σκύβανε ν᾿ ἀγγίξουν
τὴν πράσινη ἐπιφάνεια τοῦ νεροῦ
στὴ γούρνα μὲ τὰ ὑγρά τους τὰ ρουθούνια.

Οἱ ἐλιὲς μὲ τὶς ρυτίδες τῶν γονιῶν μας
τὰ βράχια μὲ τὴ γνώση τῶν γονιῶν μας
καὶ τὸ αἷμα τοῦ ἀδερφοῦ μας ζωντανὸ στὸ χῶμα
ἤτανε μία γερὴ χαρὰ μία πλούσια τάξη
γιὰ τὶς ψυχὲς ποὺ γνώριζαν τὴν προσευχή τους.

Τώρα ποὺ θὰ φύγεις, τώρα ποὺ ἡ μέρα τῆς πληρωμῆς
χαράζει, τώρα ποὺ κανεὶς δὲν ξέρει
ποιὸν θὰ σκοτώσει καὶ πῶς θὰ τελειώσει,
πάρε μαζί σου τὸ παιδὶ ποὺ εἶδε τὸ φῶς
κάτω ἀπ᾿ τὰ φύλλα ἐκείνου τοῦ πλατάνου
καὶ μάθε του νὰ μελετᾶ τὰ δέντρα.

ΙΗ´

Λυποῦμαι γιατὶ ἄφησα νὰ περάσει ἕνα πλατὺ ποτάμι
μέσα ἀπὸ τὰ δάχτυλά μου
χωρὶς νὰ πιῶ οὔτε μία στάλα.
Τώρα βυθίζομαι στὴν πέτρα.
Ἕνα μικρὸ πεῦκο στὸ κόκκινο χῶμα,
δὲν ἔχω ἄλλη συντροφιά.
Ὅ, τι ἀγάπησα χάθηκε μαζὶ μὲ τὰ σπίτια
ποὺ ἦταν καινούργια τὸ περασμένο καλοκαίρι
καὶ γκρέμισαν μὲ τὸν ἀγέρα τοῦ φθινοπώρου.


ΙΘ´

Κι ἂν ὁ ἀγέρας φυσᾶ δὲ μᾶς δροσίζει
κι ὁ ἴσκιος μένει στενὸς κάτω ἀπ᾿ τὰ κυπαρίσσια
κι ὅλο τριγύρω ἀνήφοροι στὰ βουνὰ
μᾶς βαραίνουν
οἱ φίλοι ποὺ δὲν ξέρουν πιὰ πῶς νὰ πεθάνουν.



Κ´
[ΑΝΔΡΟΜΕΔΑ]

Στὸ στῆθος μου ἡ πληγὴ ἀνοίγει πάλι
ὅταν χαμηλώνουν τ᾿ ἄστρα καὶ συγγενεύουν μὲ τὸ κορμί μου
ὅταν πέφτει σιγὴ κάτω ἀπὸ τὰ πέλματα τῶν ἀνθρώπων

Αὐτὲς οἱ πέτρες ποὺ βουλιάζουν μέσα στὰ χρόνια ὡς ποῦ θὰ μὲ παρασύρουν;
Τὴ θάλασσα τὴ θάλασσα, ποιὸς θὰ μπορέσει νὰ τὴν ἐξαντλήσει;
Βλέπω τὰ χέρια κάθε αὐγὴ νὰ γνέφουν στὸ γύπα καὶ στὸ γεράκι
δεμένη πάνω στὸ βράχο ποὺ ἔγινε μὲ τὸν πόνο δικός μου,
βλέπω τὰ δέντρα ποὺ ἀνασαίνουν τὴ μαύρη γαλήνη τῶν πεθαμένων
κι ἔπειτα τὰ χαμόγελα, ποὺ δὲν προχωροῦν, τῶν ἀγαλμάτων.

ΚΑ´

Ἐμεῖς ποὺ ξεκινήσαμε γιὰ τὸ προσκύνημα τοῦτο
κοιτάξαμε τὰ σπασμένα ἀγάλματα
ξεχαστήκαμε καὶ εἴπαμε πὼς δὲ χάνεται ἡ ζωὴ τόσο εὔκολα

πὼς ἔχει ὁ θάνατος δρόμους ἀνεξερεύνητους
καὶ μία δική του δικαιοσύνη
πὼς ὅταν ἐμεῖς ὀρθοὶ στὰ πόδια μας πεθαίνουμε
μέσα στὴν πέτρα ἀδερφωμένοι
ἑνωμένοι μὲ τὴ σκληρότητα καὶ τὴν ἀδυναμία,
οἱ παλαιοὶ νεκροὶ ξεφύγαν ἀπ᾿ τὸν κύκλο καὶ ἀναστήθηκαν
καὶ χαμογελᾶνε μέσα σὲ μία παράξενη ἡσυχία.

ΚΒ´

Γιατί περάσαν τόσα καὶ τόσα μπροστὰ στὰ μάτια μας
ποὺ καὶ τὰ μάτια μας δὲν εἶδαν τίποτε, μὰ παραπέρα
καὶ πίσω ἡ μνήμη σὰν τὸ ἄσπρο πανὶ μία νύχτα σὲ μιὰ μάντρα
ποὺ εἴδαμε ὁράματα παράξενα, περισσότερο κι ἀπὸ σένα,
νὰ περνοῦν καὶ νὰ χάνουνται μέσα στὸ ἀκίνητο φύλλωμα μιᾶς πιπεριᾶς

γιατί γνωρίσαμε τόσο πολὺ τούτη τὴ μοίρα μας
στριφογυρίζοντας μέσα σὲ σπασμένες πέτρες, τρεῖς ἢ ἕξι χιλιάδες χρόνια
ψάχνοντας σὲ οἰκοδομὲς γκρεμισμένες ποὺ θὰ ἦταν ἴσως τὸ δικό μας σπίτι
προσπαθώντας νὰ θυμηθοῦμε χρονολογίες καὶ ἡρωικὲς πράξεις
θὰ μπορέσουμε;

γιατί δεθήκαμε καὶ σκορπιστήκαμε
καὶ παλέψαμε μὲ δυσκολίες ἀνύπαρχτες ὅπως λέγαν,
χαμένοι, ξαναβρίσκοντας ἕνα δρόμο γεμάτο τυφλὰ συντάγματα,
βουλιάζοντας μέσα σὲ βάλτους καὶ μέσα στὴ λίμνη τοῦ Μαραθῶνα,
θὰ μπορέσουμε νὰ πεθάνουμε κανονικά;

ΚΓ´

Λίγο ἀκόμα
θὰ ἰδοῦμε τὶς ἀμυγδαλιὲς ν᾿ ἀνθίζουν
τὰ μάρμαρα νὰ λάμπουν στὸν ἥλιο
τὴ θάλασσα νὰ κυματίζει
λίγο ἀκόμα,
νὰ σηκωθοῦμε λίγο ψηλότερα.


ΚΔ´

Ἐδῶ τελειώνουν τὰ ἔργα τῆς θάλασσας, τὰ ἔργα τῆς ἀγάπης.
Ἐκεῖνοι ποὺ κάποτε θὰ ζήσουν ἐδῶ ποὺ τελειώνουμε
ἂν τύχει καὶ μαυρίσει στὴ μνήμη τους τὸ αἷμα καὶ ξεχειλίσει
ἂς μὴ μᾶς ξεχάσουν, τὶς ἀδύναμες ψυχὲς μέσα στ᾿ ἀσφοδίλια,
ἂς γυρίσουν πρὸς τὸ ἔρεβος11 τὰ κεφάλια τῶν θυμάτων:
Ἐμεῖς ποὺ τίποτε δὲν εἴχαμε θὰ τοὺς διδάξουμε τὴ γαλήνη.

Δεκέμβρης 1933 - Δεκέμβρης 1934


Si j’ai du goût, ce n’est guères
Que pour la terre et les pierres.

Arthur Rimbaud

I.

O anjo
esperamo-lo absortos por três anos
cuidando bem de perto
os pinheiros, a costa e os astros.
Fundidos à ponta do arado
ou à quilha do navio,
procurávamos descobrir de novo a prima semente
a fim de dar início ao pan-arcaico drama.

Voltamos às nossas casas esgotados,
com os membros debilitados, a boca partida
do gosto da ferrugem e da salmoura.
Ao acordar, partimos para o norte, estrangeiros
imersos na névoa pelas imaculadas plumas dos cisnes
          [que nos feriam.
Nas noites de inverno, enlouquecia-nos o poderoso vento do leste,
nos dias de verão, desaparecíamos em meio a agonia do dia
          [que não arrefecia.

Trouxemos de volta
estas gravuras de uma humilde arte.

II.

Um outro poço dentro de uma gruta.
Outrora, era-nos fácil extrair imagens e ornamentos
para agradar os amigos que ainda nos eram fiéis.
Romperam-se os cordames, apenas os sulcos na boca do poço
nos fazem lembrar de nossa passada felicidade:
os dedos na borda, como dizia o poeta .
Os dedos sentem o frescor da pedra um pouco
e o fervor da pele o leva
e a gruta sua alma aposta e a perde
a todo instante, toda silêncio, nenhuma gota.

III.

Μέμνησο λουτρῶν οἷς ἐνοσφίσθης.

Despertei com esta cabeça de mármore nas mãos
que me cansa os braços e eu não sei onde
largá-la.
Caía-me no sonho quando do sonho eu saía,
e assim uniu-se nossa vida e será difícil dividi-la outra vez.

Contemplo os olhos. Nem abertos, nem fechados,
falo à boca que tudo se esforça por falar
toco as faces que romperam pela pele.

Já não tenho forças
minhas mãos desaparecem e caem ao meu lado
mutiladas.

IV.
ARGONAUTAS

E a alma,
se busca conhecer-se,
na alma
é preciso que olhe:
o estrangeiro e o inimigo vimo-lo no espelho .
Eram gente boa os companheiros, não reclamavam
nem do cansaço, nem da sede, nem do frio enregelante,
tinham a atitude das árvores e das ondas
que aceitam o vento e a chuva,
aceitam a noite e o sol,
sem mudaram em meio à mudança.
Eram gente boa os companheiros, dias inteiros
suavam aos remos, cabisbaixos,
tomando fôlego ritmadamente
e o seu sangue enrubescia uma pele submissa.
Às vezes cantavam, de olhos baixos
ao atravessarmos a ilha repleta de cactos da índia,
rumo a oeste, além do cabo dos cachorros
que latiam.
Se busca conhecer a si mesma, diziam,
deve olhar na alma, diziam
e os remos batiam no pélago dourado
ao pôr-do-sol.
Cruzamos muitos cabos, muitas ilhas pelo mar
que leva a um outro mar, e gaivotas e focas.
Mulheres infelizes, às vezes, em paroxismos
choravam filhos que perderam,
enquanto outras, revoltadas, buscavam Alexandre Magno
e glórias enterradas nos recôncavos da Ásia.
Ancoramos em praias repletas de aromas noturnos
sob o gorjear dos pássaros, água que deixava nas mãos
a memória de uma grande felicidade.
Mas não terminavam as viagens.
Suas almas uniram-se aos remos e aos esteios
à solene face da proa
às vergas do timão
à água que lhes aquebrantava o aspecto.
Os companheiros morreram um por um,
de olhos baixos. Seus remos
indicam a parte da praia onde jazem .
Ninguém se lembra deles. Justiça.

V.

Não os conhecemos. Foi a esperança, no fundo, que disse
que os conhecêramos desde a tenra infância.
Vimo-los quiçá duas vezes e então embarcaram,
carga de carvão, carga de grãos, e os nossos amigos
perdidos para sempre para além do oceano.
A manhã nos encontra ao lado da débil lâmpada
a desenhar sem jeito e com esforço no papel
navios, sereias ou conchas marinhas.
À tarde baixamos até o rio
porque nos mostra o caminho até o mar,
e passamos as noites em porões que fedem a piche.
Nossos amigos foram embora, talvez nunca os víramos, talvez
os encontráramos quando já o sonho
nos trazia muito perto da onda que tomava fôlego,
talvez os procuramos porque procuramos outra vida,
além das estátuas.

VI.
M. R.

O jardim com suas fontes na chuva
tu o verás apenas através da janela baixa
por trás da fosca vidraça. Teu quarto
será iluminado apenas pelas chamas da lareira
e às vezes, os longínquos relâmpagos revelarão
as rugas de tua fronte, meu velho amigo.
O jardim com as fontes que eram, em tuas mãos,
um ritmo doutra vida, além dos arruinados
mármores e das trágicas colunas
e um coro em meio aos oleandros
perto da nova pedreira;
um vidro opaco ter-te-á isolado desses teus momentos.
Não terás fôlego, a lama e a seiva das árvores
irromperão de tua memória para bater
no vidro golpeado pela chuva
do mundo externo.

VII.
VENTO SUL

O pélago junta-se ao poente com uma cordilheira.
À nossa esquerda o vento sopra e nos enlouquece,
o mesmo vento que desnuda os ossos de sua carne.
Nossa casa em meio aos pinheiros e as alfarrobeiras.
Vastas janelas. Vastas mesas
para escrevermos cartas que te escrevêramos
tantos meses e as quais lançamos
no espaço que nos separa para que se enchesse.

Astro da manhã, quando baixaste o olhar
as horas eram-nos mais doces que unguento
sobre a ferida, mais alegres que a água gelada
ao palato, mais tranquilas que as asas do cisne.
Tiveste nossa vida em tuas mãos.
Depois do amargo pão do exílio,
à noite, se permanecermos face ao muro branco,
tua voz nos aborda como uma esperança de fogo;
e, então, o mesmo vento afia,
sobre nossos nervos, uma lâmina.

Cada um te escreveu as mesmas coisas
mas cada um silencia face ao outro,
olhando, cada um, o mesmo mundo em separado,
a luz e a treva na cordilheira
e a ti.

Quem levantará essa dor de nosso coração?
Ontem à tarde uma enxurrada e hoje
de novo o céu encoberto pesa. Nossos pensamentos,
como as agulhas dos pinheiros da enxurrada de ontem
à porta de nossa casa, agrupados e inúteis,
querem construir uma torre que colapse.

Em meio a todas essas vilas devastadas,
acima daquele mesmo cabo, exposto ao vento sul
com a cordilheira a nossa frente que te oculta,
quem irá avaliar nossa resignação ao esquecimento?
quem aceitará nossa oferta neste fim de outono?


VIII.

Mas o que procuram nossas almas viajantes
sobre os conveses de navios arruinados,
repletos de mulheres maceradas e bebês que choram,
sem poderem esquecerem-se de si nem com os coiós
nem com as estrelas que as pontas dos mastros apontam?
Remoídas pelos discos dos fonógrafos,
amarradas sem querer a ilusórias peregrinações,
murmurando pensamentos fragmentados em línguas estrangeiras.

Mas o que procuram nossas almas viajantes
sobre a apodrecida madeira marinha
de porto em porto?

Movendo rochas quebradas, inalando
o orvalho dos pinheiros, cada vez com mais dificuldade,
nadando na água desse mar
daquele mar
sem tato
sem homens
numa pátria que já não é mais a nossa
e nem a tua.

Sabíamos como eram belas as ilhas
nalgum lugar aqui em volta onde tateamos
um pouco mais acima, mais abaixo
num exíguo espaço.

IX.

É antigo o porto, já não posso mais esperar
nem pelo meu amigo que partiu para a ilha dos pinheiros
nem pelo meu amigo que partiu para a ilha dos plátanos
nem pelo meu amigo que partiu pro mar aberto.
Acaricio os canhões enferrujados, acaricio os remos
para reviver minha pele e decidir-me.
As velas exalam apenas o perfume
do sal de uma outra tempestade.

Se quisesse permanecer sozinho, teria procurado
a solidão, não teria procurado essa resiliência,
a fragmentação da minh’alma no horizonte,
essas trilhas, essas cores, esse silêncio.

Os astros da noite me fazem pensar na expectativa
de Odisseu pelos mortos entre os asfódelos.
Quando ancoramos aqui entre os asfódelos queríamos achar
o vale que a Adônis viu ferido.

X.

Nossa terra é isolada, toda montanhas
que têm como teto o baixo céu, dia e noite.
Não temos rios, não temos poços, não temos fontes,
apenas algumas cisternas, além disso vazias, que ecoam e que cultuamos.
Um som vazio, estagnado, idêntico à nossa solidão
idêntico ao nosso amor, idêntico ao nosso corpo.
Parece curioso que alguma vez pudéramos construir
casas, cabanas e nossos estábulos.
E nossas bodas, as orvalhadas guirlandas e os dedos
tornam-se enigmas inexplicáveis para a nossa alma.
Como nasceram, como criaram-se os filhos nossos?

Nossa terra é isolada. Isolaram-na
as duas negras Simplégades . Nos portos,
no domingo, ao descermos para respirar,
vemos aparecer no crepúsculo
troços de madeira das jornadas que não terminaram,
corpos que já não sabem mais amar.

XI.

Às vezes, teu sangue congelava como a lua,
em meio à noite inexaurível o teu sangue
espalhava suas brancas asas acima
das pedras negras, da forma da floresta e das casas
com uma pequena luz dos nossos tempos de criança.


XII.
Garrafa ao mar

Três pedras, alguns pinheiros queimados e uma igreja solitária
e acima
a mesma exata paisagem recomeça
três pedras na forma de um portão, enferrujado,
alguns pinheiros chamuscados, negros e amarelados
e uma casinha quadrada coberta de cal branca
e mais acima ainda muitas vezes
a mesma paisagem recomeça em escalada
até o horizonte, até o céu que reina.

Aqui ancoramos o navio para amarrarmos os remos quebrados,
para bebermos água e dormirmos.
O mar que nos amargurou era profundo e inexplorado
e se desdobrava em uma infinita serenidade.
Aqui em meio ao cascalho encontramos um moeda
e a apostamos no jogo de dados.
Ganhou-a o mais jovem, e sumiu .

Reembarcamos com nossos remos quebrados.

XIII.
Hidra

Flâmulas de golfinhos e o barulho de canhões.
O pélago, tão amargo à tua alma às vezes,
elevava os multicoloridos e brilhantes navios,
os dobrava, os balançava, todo azul de asas brancas,
tão amargo à tua alma às vezes,
e agora repleto de cores ao sol.

Velas brancas e luz e os remos úmidos
golpeiam sob o ritmo dos tambores uma onda calma.

Seriam belos teus olhos a ver,
Seriam esplêndidos os teus braços a se estender
Seriam, como dantes, vívidos os teus lábios
face a um tal espetáculo.
Isso buscavas
                            o que buscavas na cinza
ou em meio à chuva na névoa no vento,
à hora ainda quando esmorecem as luzes
e a cidade sucumbe e das pedras do pavimento
te mostra seu coração o Nazareno,
o que buscavas? por que não vens? o que buscavas?

XIV.

Três rubros pombos à luz
inscrevendo nosso destino na luz
com cores e gestos humanos
que já amamos.

XV.
Quid πλατανῶν opacissimus?

O sono te envolve, como uma árvore, com folhas verdes,
inspiras, como uma árvore, na calma luz,
na diáfana fonte olhei tua forma:
pálpebras fechadas e os cílios roçavam a água.
Meus dedos no grama macia encontraram teus dedos,
por um instante achei teu pulso
e senti, noutro lugar, a dor do teu coração.

Abaixo dos plátanos, perto da água, entre os loureiros
o sono te deslocou e te fragmentou
à minha volta, perto de mim, sem que eu possa te sentir inteira,
fundida ao teu silêncio.
Olhando tua sombra crescer e diminuir,
a perder-se em outras sombras, em outro
mundo que te liberta e prende.

A vida que nos deste para viver, vivemo-la.
Lamenta aqueles que esperam com tanta paciência
perdidos entre os loureiros negros embaixo dos pesados plátanos
e a tantos outros que, solitários, falam com as cisternas e as fontes
e se afogam nos giros da voz.
Lamenta o companheiro que partilhou de nossa privação e suor
e afundou no sol como um corvo além das ruínas,
sem esperança de aproveitar nosso pagamento.

Dá-nos do sono a calmaria.


XVI.
O nome é Orestes

Na raia, outra vez na raia, na raia,
quantos giros, quantos círculos de sangue, quantas negras
voltas. Os homens que me olham,
que me olhavam quando sobre a carruagem
ergui minha mão esplendente e gritei.

A espuma dos cavalos me atinge, os cavalos nunca irão cansar?
Geme o eixo, queima o eixo, quando o eixo pegará fogo?
Quando as rédeas romperão? quando as ferraduras
pisarão por inteiro o chão
sobre a relva macia, entre as papoulas onde
na primavera colheste uma margarida.
Eram belos teus olhos, mas não soubeste para onde olhar
não sabia para onde olhar tampouco eu, sem pátria,
eu que luto deste lado, quantos giros?
e sinto as pernas enfraquecer sobre o eixo
sobre as rodas sobre a raia de terra,
as pernas amolecem fácil quando querem os deuses,
ninguém pode escapar, de que serve a força, não podes
escapar ao mar que te embala e que procuras,
nessa hora imiga, em meio ao cavalar suspiro,
com os cálamos que cantam numa escala lídia,
o mar que não podes encontrar por mais que corras
mesmo que te dirijas às negras Eumênides que se enfadam
sem perdão.


XVII.
Astianax

Agora que estás partindo, toma contigo também teu filho
que viu a luz de sob aquele plátano,
num dia em que ressoavam trombetas e armas brilhavam,
em que os cavalos suados se curvavam para tocar
a verde superfície da água
no bebedouro com as suas húmidas narinas.

As oliveiras com as rugas de nossos pais
as pedras com a sabedoria de nossos pais
e o sangue de nosso irmão, vivo, ao chão
eram uma sólida alegria, um rico padrão
às almas que conheciam suas preces.

Agora que estás partindo, agora que o dia do pagamento
raia, agora que ninguém sabe
quem irá matar e como irá morrer,
toma contigo teu filho que viu a luz
de sob as folhas daquele plátano
e o ensina a considerar as árvores.

XVIII.

Lamento porque deixei que um largo rio passasse
entre os meus dedos
sem que bebesse uma gota.
Agora afundo-me na pedra.
Um pequeno pinheiro numa terra vermelha,
não tenho outra companhia.
O que amava perdeu-se junto com as casas
que eram novas verão passado
e que ruíram com o vento do outono.


XIX.

E ainda que o vento sopre, não nos refresca,
e a sombra mantém-se estreita sob os ciprestes
e tudo em volta é aclive de montanhas:
pesam sobre nós
os amigos que já não sabem como morrer.


XX.
[ANDRÔMEDA]

Em meu peito abre-se outra vez a chaga
quando as estrelas baixam e se aparentam à minha pele
quando cai o silêncio sob os passos dos homens.

Essas pedras que rolam no tempo até onde me enlevarão?
O mar, o mar, quem poderá exauri-lo?
Vejo as mãos a cada manhã sinalizarem ao abutre e ao falcão,
acorrentado sobre a rocha que se tornou, com a dor, minha;
Vejo as árvores que inalam a negra serenidade dos mortos
e em seguida os esgares impassíveis das estátuas.

XXI.

Nós que iniciamos esta viagem
olhamos para as estátuas partidas
distraímo-nos e falamos que não se perde uma vida tão facilmente

que tem a morte caminhos inescrutáveis
e a sua própria justiça,
que enquanto nós eretos e de pé morremos
no meio da rocha irmanados
unidos à dureza e a impotência,
os vetustos mortos fugiram ao ciclo e reerguem-se
sorrindo num estranho silêncio.

XXII.

Porque passaram tantas e tantas coisas frente aos nossos olhos
que nem nossos olhos nada viram, mas além
e aquém a memória como um alvo pano uma noite num quintal
em que contemplamos estranhas visões, especialmente de ti,
passar e desaparecer por entre a imóvel copa de uma pimenteira.

Porque conhecemos tão bem nosso destino,
jogados de um lado a outro entre as rochas partidas, três ou seis mil anos atrás
procurando ruínas que poderiam ter sido talvez a nossa própria casa
esforçando-nos para lembrar as cronologias e as ações heroicas.
Seremos capazes?

Porque fomos amarrados e espalhados
e lutamos com difíceis ilusões, como disseram,
perdidos, redescobrindo um caminho repleto de regimentos cegos
afundando na lama e nos pântanos de Maratona
seremos capazes de morrer normalmente?

XXIII.

Num instante
veremos as amendoeiras florir
as ruínas reluzirem ao sol
e o mar ondular
Num instante,
ergamo-nos um pouco mais alto.


XXIV.

Aqui terminam as obras do mar, as obras do amor.
Aqueles que um dia viverão aqui onde morremos
se por acaso o sangue escurecer em sua memória e transbordar
que não se esqueçam de nós, as almas impotentes entre os asfódelos,
que se voltem ao Êrebo  as cabeças das vítimas.
Nós, que nada tivemos lhes ensinaremos a serenidade.

Dezembro de 1933 – Dezembro de 1934.

Notas: As notas à esquerda são da edição original; à direita, minha tradução das mesmas. Na tradução das notas, incluí algumas notas minhas, identificadas como “Nota do Tradutor”

1. Σημείωση τοῦ ποιητή στὴ πρώτη ἔκδοση· Εἶναι τὰ δύο συνθετικά ποὺ μ’ἔκαναν νὰ διαλέξω τὸν τίτλο αὐτῆς τῆς ἐργασίας· ΜΥΘΟΣ, γιατί χρησιμοποίησα ἀρκετά φανερά μία ὀρισμένη μυθολογία· ΙΣΤΟΡΙΑ, γιατί προσπάθησα νὰ ἐκφράσω, μία κάπιον εἰρμό, μία κατάσταση τόσο ἀνεξάρτητη ἀπὸ μένα ὄσο καὶ τὰ πρόσωπα ἐνός μυθιστορήματος.

2 Σ. τοῦ Π.· «Καὶ οἴ δίκαιοι κατὰ τὴ Θεία Γραφή πόσοι εἶναι; Καὶ συλλογίζοντας αὐτὸ, ἐπαίξανε τὰ μάτια μου στὰ χέρια μου ὀπού ἦτανε ἀπιθωμένα στὸ φιλιατρό [=τὸ στόμιο τοῦ πηγαδιού]», Σολωμός, Γυναίκα τῆς Ζάκυνθος.

3 Σ. τοῦ Π.· «Θυμήσου τὰ λουτρά πού σὲ σκότωσαν».

4 Σ. τοῦ Π.· Πλάτων, Ἀλκιβιάδης, 133b. «Λοιπόν, φίλε μου Ἀλκιβιάδη, κι ἡ ξυχή, ἂν εἶναι νὰ γνωρίσει τὸν ἐαυτό της, σὲ ψυχή πρέπει νὰ κοιτάξει». Ὁ λόγος αὐτός μου ἔδωσε κάποτε ἔνα συναίσθημα πολύ συγγενικό μὲ τοὺς στίχους τοῦ Baudelaire («La mort des amants»[ὁ θάνατος τῶν ἐραστῶν]): Nos deux coeurs seront deux vastes flambeaux, Qui réfléchiront leurs doublés lumières Dans nos deux esprits ces miroirs jumeaux. [Οἱ δυό καρδιές μας θὰ εἶναι δυό μεγάλες δάδες ποὺ θὰ καθρεφτίσουν τὰ διπλά τοὺς φώτα στὰ δυό μας πνεύματα, αὐτοῦς τοὺς δίδυμους καθρέφτες.]

5. Σ. τοῦ Π.· στ. 39-40: σῆμά τέ μοι χεῦαι πολιῆς ἐπὶ θινὶ θαλάσσης,| ἀνδρὸς δυστήνοιο, καὶ ἐσσομένοισι πυθέσθαι·|ταῦτά τέ μοι τελέσαι πῆξαί τ' ἐπὶ τύμβῳ ἐρετμόν,|τῷ καὶ ζωὸς ἔρεσσον ἐὼν μετ' ἐμοῖσ' ἑτάροισιν.’ (Οδύσσεια, Λ 75-78) [Καὶ μνῆμα χτίσε μου κοντά στ’ἀφροντυμένο κῦμα, γιὰ νὰ θυμούνται κι οἱ στερνοί τὸ δόλιο παλικάρι. Κι αὐτὰ ὄταν κάμεις στήσε μου κι ἔνα κουπί στὸν τάφο, αὐτοῦ ποὺ ζώντας ἔλαμα κι ἔγω μὲ τοὺς συντρόφους. (Μετάφραση Ζ. Σιδέρη)]


6.
Σ. τοῦ Π.· Μωρίς Ῥαβέλ.

7. Σ. τοῦ Π.· Σύμφωνα μὲ τὴν εὐχή τῆς Μήδειας: Εἴθ’ὤφελ’Ἀργοῦς μὴ διαπτᾶσθαι σκάφος Κόλχων ἐς αἶαν κυανέας Συμπλεγάδας [Μακάρι τὸ σκάφος τῆς Ἀργώς νὰ μὴν εἶχες περάσει φτερωτώ τις μαύρες Συμπληγάδες γιὰ τὴν γῆ τῶν Κόλχων. Εὐριπίδης, Μήδεια, 1-2]

8. Σ. τοῦ Π.· Πρβλ. Ὀδύσσεια, κ 552: «Ἔνας κάπιος Ἐλπήνωρ, ὁ πιὸ νέος».

9. Σ. τοῦ Π.· [«Τί γίγνεται ὁ βαθύσκιωπος πλαταμώνας;»] Πλίνιος ὁ Νεότερος, Ἐπιστολές Ι 3.

10. Σ. τοῦ Π.· Σοφοκλής, Ἠλέκτρα 649.

11. Σ. τοῦ Π.· «Εἰς Ἔρεβος στρέψας…», Ὀδύσσεια, κ 528.

1. Nota do autor à primeira edição: Foram os dois compostos que me levaram a escolher o título dessa obra: MITO, porque usei de maneira bastante óbvia uma mitologia definida; ESTÓRIA, porque me esforcei para expressar, com alguma coerência, um enredo tão independente de mim quanto os personagens de uma novela. Nota do tradutor: Epígrafe: “Se eu tenho um gosto, não é senão/ pela terra e as pedras do chão”.

2. Nota do autor: “E os justos, de acordo com a Sagrada Escritura, quais são? E pensando nisso, meus olhos foram de uma mão para a outra, onde tocavam a boca do poço”, Solomós, A Mulher de Zante.


3
. Nota do autor: “Recorda do banho em que foste abatido”, Coéforas, 491.

4. Nota do autor: Platão, Alcibíades 133b. “Portanto, meu caro amigo Alcibíades, também nossa alma, se for conhecer a sua própria, na alma deve olhar”. Essa fala me deu de alguma forma uma impressão muito parecida com os versos de Baudelaire (“La mort des Amants” [A morte dos Amantes]): Nos deux coeurs seront deux vastes flambeaux, Qui réfléchiront leurs doublés lumières Dans nos deux esprits ces miroirs jumeaux. [Nossos dois corações serão duas grandes chamas, que refletirão as suas duplas luzes, em nossos dois espíritos, os seus espelhos gêmeos.]


5
. Nota do autor: vv. 39-40: σῆμά τέ μοι χεῦαι πολιῆς ἐπὶ θινὶ θαλάσσης,| ἀνδρὸς δυστήνοιο, καὶ ἐσσομένοισι πυθέσθαι·| ταῦτά τέ μοι τελέσαι πῆξαί τ' ἐπὶ τύμβῳ ἐρετμόν,|τῷ καὶ ζωὸς ἔρεσσον ἐὼν μετ' ἐμοῖσ' ἑτάροισιν.’ [“E ergue-me, junto à orla do mar cinzento, cenotáfio | de varão infeliz, notícia também aos vindouros. Completa-me isso e crava junto no túmulo o remo | com que, vivo, remava junto de meus companheiros.”], Odisseia, 11 75-78. Nota do Tradutor: No original, Seféris utiliza a tradução de Z. Sideri, que foi aqui substituída pela de C. Werner, Odisseia. São Paulo, CosacNaify: 2014.


6
. Nota do autor: Maurice Ravel.

7. Nota do autor: De acordo com a prece de Medeia: Εἴθ᾽ ὤφελ᾽ Ἀργοῦς μὴ διαπτάσθαι σκάφος| Κόλχων ἐς αἶαν κυανέας Συμπληγάδας. (Oxalá não tivessem barca Argó voado através das cíanas Simplégades para a terra dos Cólquidas, Eurípides, Medeia, 1-2).

8. Nota do autor: Cf. Odisseia, 10.552: “Um tal de Elpenor, o mais novo...”.

9. Nota do autor: “O que aconteceu com os umbrosíssimos plátanos”, Plínio, o Novo, Cartas, I 3.

10. Nota do autor: Sófocles, Eléctra, 694.

11. Nota do autor: “εἰς Ἔρεβος στρέψας…”, Odisseia, 10.528. Nota da tradutor: o passo significa “voltando-as ao Êrebo...”, i.e., ao mundo dos mortos. Preferi manter o nome mítico, ao invés de traduzir por “trevas”, que é o sentido que a palavra adquiriu na língua contemporânea.

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