segunda-feira, 13 de abril de 2015

Φωνές | Vozes

K. Kavafis | Robert de Brose

Ιδανικές φωνές κι αγαπημένες
εκείνων που πεθάναν, ή εκείνων που είναι
για μας χαμένοι σαν τους πεθαμένους.


Κάποτε μες στα όνειρά μας ομιλούνε·
κάποτε μες στην σκέψι τες ακούει το μυαλό.


Και με τον ήχο των για μια στιγμή επιστρέφουν
ήχοι από την πρώτη ποίησι της ζωής μας —
σα μουσική, την νύχτα, μακρυνή, που σβύνει.

Idealizadas vozes e adoradas
dos que morreram, ou daqueles que estão
para nós perdidos como os mortos.


Ora, conosco, em sonhos, conversam;
Ora, absorta em pensamento a mente os ouve.


E junto com seu eco, num instante retornam
os ecos da primeira poesia de nossa vida –
sua música que, à noite, ao longe, se apaga.

Fonte: Κ. Π. Καβάφης – Ο Επίσημος Δικτυακός του Αρχείου Καβάφη

quinta-feira, 2 de abril de 2015

The Black Riders and other lines | Os Cavaleiros Negros e outras linhas

Stephen Crane | Robert de Brose

III


In the desert
I saw a creature, naked, bestial,
Who, squatting upon the ground,
Held his heart in his hands,

5 And ate of it.
I said, "Is it good, friend?"
"It is bitter—bitter," he answered;


"But I like it
"Because it is bitter,

10 "And because it is my heart."

III


No deserto
Vi uma criatura, nua, bestial,
Que, agachada sobre o chão,
Tinha o coração em suas mãos,
5 E dele comia.
Eu disse, "Está bom, amigo?"
"É amargo – amargo, me disse;


"Mas eu gosto
"Porque é amargo,
10 "E porque é meu coração".

IX


I stood upon a high place,
And saw, below, many devils
Running, leaping,
And carousing in sin.

5 One looked up, grinning,
And said, "Conrade! Brother!"

IX


Fiquei num lugar bem alto
E vi, lá embaixo, muitos diabos
Correndo, saltitando,
Farreando em pecado.
5 Um olhou para cima, rindo
E disse: "Parceiro! Irmão!"

XXIV

XXIV

I saw a man pursuing the horizon;
Round and round they sped.
I was disturbed at this;
I accosted the man.

5 "It is futile," I said,
"You can never" –

You lie," he cried,
And ran on.

Vi um homem perseguindo o horizonte
Cada vez mais rápido corriam.
E isto me perturbou;
Aproximei-me do homem.
5 "É inútil," eu disse,
"Você nunca vai" –

"É mentira," ele gritou,
E saiu correndo.

XXIX

XXIX

Behold from the land of the farther suns
I returned.
And I was in a reptile swarming place,
Peopled, otherwise, with grimaces,

5 Shrouded above in black impenetrableness.
I shrank, loathing,
Sick with it.
And I said to him,
"What is this?"

10 He made answer slowly,

Spirit, this is a world;
"This was your home."

Vê, eis que da terra de longínquos sóis
Eu retornei.
E estava em um local que pululava de répteis,
Povoado, doutra forma, com esgares,
5 Tudo acima envolto por negra impenetrabilidade.
Retraí-me, com asco
Enojado daquilo.
E lhe disse,
"Mas o que é isso?"
10 E ele me respondeu com cuidado,
"Espírito, isto é um mundo;
"Esta foi tua casa."

XXXVI

XXXVI

I met a seer.
He held in his hands
The book of wisdom.
"Sir," I addressed him,

5 "Let me read."
"Child –" he began.
"Sir," I said,
"Think not that I am a child,
"For already I know too much

10 "Of that which you hold.
"Aye, much."


He smiled.
Then he opened the book
And held it before me. –

15 Strange that I have grown so suddenly blind.

Conheci um vidente.
Em suas mãos ele tinha
O livro da sabedoria.
"Senhor," eu lhe disse,
5 "Deixa me ler."
"Meu filho–" começou.
"Senhor," interrompi,
"Não penses eu seja uma criança,
"Pois eu já sei coisas demais
10 "dessas de que você falou.
"Sim, coisas demais."


Ele sorriu.
E então abriu o livro
E o ergueu na minha frente.
15 Estranho que eu ficasse tão subitamente cego.

XLII

XLII

I walked in a desert.
And I cried,
"Ah, God, take me from this place!"
A voice said, "It is no desert."

5 I cried, "Well, but–
"The sand, the heat, the vacant horizon."
A voice said, "It is no desert."

Caminhei em um deserto.
E então gritei,
"Ah, Deus, tira-me deste lugar"
Uma voz disse, "Não é nenhum deserto."
5 Eu gritei, "Sim, mas–"
"E as dunas, o calor, o horizonte vazio."
Uma voz disse, "Não é nenhum deserto."

XLVI

XLVI

Many red devils ran from my heart
And out upon the page,
They were so tiny
The pen could mash them.

5 And many struggled in the ink.
It was strange
To write in this red muck
Of things from my heart.
Muitos diabos vermelhos fugiram do meu coração
E caíram na página,
Eram tão pequeninos
A caneta podia esmagá-los.
5 E muitos debatiam-se na tinta.
Era esquisito
Escrever nessa gosma vermelha
De coisas do meu coração.


LVILVI
A man feared that he might find an assassin;
Another that he might find a victim.
One was more wise than the other.
Um homem temia encontrar um assassino.
Um outro, que pudesse encontrar uma vítima.
Um foi mais sábio do que o outro.

FONTE: The Black Riders and Other Lines, publicado c. 1905.  


segunda-feira, 30 de março de 2015

El Desdichado

Gérard de Nerval | Robert de Brose

Je suis le Ténébreux, - le Veuf, - l'Inconsolé,
Le Prince d'Aquitaine à la Tour abolie :
Ma seule Etoile est morte, - et mon luth constellé
Porte le Soleil noir de la Mélancolie.

5 Dans la nuit du Tombeau, Toi qui m'as consolé,
Rends-moi le Pausilippe et la mer d'Italie,
La fleur qui plaisait tant à mon coeur désolé,
Et la treille où le Pampre à la Rose s'allie.

Suis-je Amour ou Phébus ?... Lusignan ou Biron ?
10 Mon front est rouge encor du baiser de la Reine;
J'ai rêvé dans la Grotte où nage la sirène...

Et j'ai deux fois vainqueur traversé l'Achéron :
Modulant tour à tour sur la lyre d'Orphée
Les soupirs de la Sainte et les cris de la Fée.
Eu sou o Tenebroso, - o Viúvo, - o Inconsolado
O Príncipe da Aquitânia na Torre vazia:
Minha estrela está morta, - e meu lude quebrado
Carrega o Sol negro da Melancolia.

5 Na Noite da Tumba, tu que me hás consolado,
Dá-me o monte Posílipo e o mar da Itália,
A flor que agradou meu coração desolado,
E a treliça onde a rama à rosa se amalha.

Sou o Amor ou Febo?... Lusinã ou Birão?
10 A fronte ainda rutila do beijo da rainha;
Eu da sereia sonhei na grota marinha...

E duas vezes vencedor cruzei o Aquerão:
Modulando a lira de Orfeu de forma alternada
Entre os suspiros da santa e os gritos da fada.