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quinta-feira, 2 de abril de 2020

Carmen 4.7 | Canção 4.7

Horácio | Robert de Brose


Diffugere nives, redeunt iam gramina campis
arboribusque comae;
mutat terra vices, et decrescentia ripas
flumina praetereunt. 
5 Gratia cum Nymphis geminisque sororibus audet
ducere nuda choros.
inmortalia ne speres, monet annus et almum
quae rapit hora diem.
frigora mitescunt Zephyris, ver proterit aestas,
10 interitura, simul
pomifer autumnus fruges effuderit, et mox
bruma recurrit iners.
damna tamen celeres reparant caelestia lunae:
nos ubi decidimus
15 quo pius Aeneas, quo dives Tullus et Ancus,
pulvis et umbra sumus.
quis scit an adiciant hodiernae crastina summae
tempora di superi?
cuncta manus avidas fugient heredis, amico
20 quae dederis animo.
cum semel occideris et de te splendida Minos
fecerit arbitria,
non, Torquate, genus, non te facundia, non te
restituet pietas.
25 infernis neque enim tenebris Diana pudicum
liberat Hippolytum
nec Lethaea valet Theseus abrumpere caro
vincula Pirithoo.  
Difundiu-se a neve, retornam já as gramíneas aos campos,
e, às árvores suas comas;
a terra muda as vicissitudes e, decrescendo, às margens
se contraem os rios.
5 A Graça com as Ninfas, suas gêmeas irmãs, já ousa
nua puxar coros de dança.
Imorredouro nada esperes, menta o ciclo do ano; e ao almo
dia rouba a hora que passa.
As friagens com Zéfiro se imiscuem, o verão a primavera
10 expulsa moribunda, e simultâneo
o pomífero outono as searas efunde; e daí a pouco
silente a brumal noite retorna.
Os danos se celestes reparam as céleres luas,
nós, quando caídos
15 onde o pio Enéias, onde os ricos Tulo e Anco,
poeira e sombra somos.
Quem sabe se os súperos deuses adirão à hodierna soma
os crástinos tempos ?
Tudo das mãos ávidas fugirão do herdeiro, amigo
20 quais tiveres ao ânimo dado.
Uma vez que tiveres morrido e de ti, esplêndidas, Minos
te houver dado as sentenças,
nem, Torquato, tua nobreza, nem tua facúndia, nem a ti
restituirá à vida a piedade.
25 Dos infernos, pois, nem das trevas Diana ao pudico
Hipólito libertou,
e tampouco foi capaz Teseu de romper ao caro
Perítoo o vínculo leteu.

terça-feira, 24 de março de 2020

Carpe Diem | Vive o Dia (Odes 1.11)

Horácio | Robert de Brose


Tu ne quaesieris, scire nefas, quem mihi, quem tibi
finem di dederint, Leuconoe, nec Babylonios
temptaris numeros. ut melius, quidquid erit, pati.
seu pluris hiemes seu tribuit Iuppiter ultimam,
5 quae nunc oppositis debilitat pumicibus mare
Tyrrhenum: sapias, vina liques, et spatio brevi
spem longam reseces. dum loquimur, fugerit invida
aetas: carpe diem quam minimum credula postero. 
Não perquiras, nefando é o saber, que fim a mim, a ti
darão os deuses, Leuconoé, nem os babilônios
cálculos atentes. Quão melhor, o que vier, é suportar:
invernos ou se muitos Júpiter dar-te-á, ou se o último,
5 o qual, agora, adversos púmices corrói com o mar
Tirseno: tem juízo, filtra o vinho e a um breve tempo
longa a esperança podes. Falamos, e ínvida se esvai
já a vida: vive o dia, e o mínimo te fies no amanhã.
Kanagawa oki nami ura,
(The Great Wave of Kangawa), c. 1826.



Fonte: Q. Horatius Flaccus (Horace), Carmina. Ed. Paul Shorey, Gordon Lang, Paul Shorey and Gordon J. Laing. Disponível na Biblioteca Digital Perseus.

Notas: O metro desse poema, que eu não tentei reproduzir na tradução, é o grande asclepiadeu, cujo esquema é   ̶   ̶   ̶  ⏑⏑  ̶  |  ̶  ⏑⏑  ̶  |  ̶  ⏑⏑  ̶   ⏑ x.