segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

A Dream within a Dream | Um Sonho dentro de um Sonho

Edgar Allan Poe | Robert de Brose


Take this kiss upon the brow!
And, in parting from you now,
Thus much let me avow —
You are not wrong, who deem
5 That my days have been a dream;
Yet if hope has flown away
In a night, or in a day,
In a vision, or in none,
Is it therefore the less gone?
10 All that we see or seem
Is but a dream within a dream.

I stand amid the roar
Of a surf-tormented shore,
And I hold within my hand
15 Grains of the golden sand —
How few! yet how they creep
Through my fingers to the deep,
While I weep — while I weep!
O God! Can I not grasp
20 Them with a tighter clasp?
O God! can I not save
One from the pitiless wave?
Is all that we see or seem
But a dream within a dream?

Tome um beijo à fronte agora!
Quando eu, indo-me embora,
Isto vos digo, Senhora –
Não estais errada em crer
5 Meus dias um sonho ser;
Mas se a esperança morreu
de dia, no eterno breu,
no nada, numa visão,
Foi a perda menor então?
10 Todo este mundo medonho
é só um sonho dentro de um sonho.

Numa praia, em meio ao brado
das ondas, me vi cercado,
e tomei em minha mão,
15 da areia dourada os grãos –
Tão poucos! mas como rolam
por meus dedos para o solo
enquanto choro, enquanto choro.
Meus Deus! não os posso ter
20 em minha mão sem os perder?
Meus Deus! salvar não posso
apenas um do abismal fosso?
É tudo neste mundo medonho
só um sonho dentro de um sonho?
Fonte: Poetry Foundation.

Edições:

10 out 2023 -
v. 11, "é apenas um sonho dentro de um sonho" > "só um sonho dentro de um sonho".
v. 24, "um sonho apenas um dentro de um sonho" > "é só um sonho dentro de um sonho".

sexta-feira, 5 de abril de 2019

Balada do Amor através das Idades | Ballad of Love through the Ages

Carlos Drummond de Andrade | Robert de Brose

Eu te gosto, você me gosta
desde tempos imemoriais.
Eu era grego, você troiana,
troiana mas não Helena.
Saí do cavalo de pau
para matar seu irmão.
Matei, brigamos, morremos.

Virei soldado romano,
perseguidor de cristãos.
Na porta da catacumba
encontrei-te novamente.
Mas quando vi você nua
caída na areia do circo
e o leão que vinha vindo,
dei um pulo desesperado
e o leão comeu nós dois.

Depois fui pirata mouro,
flagelo da Tripolitânia.
Toquei fogo na fragata
onde você se escondia
da fúria de meu bergantim.
Mas quando ia te pegar
e te fazer minha escrava,
você fez o sinal da cruz
e rasgou o peito a punhal…
Me suicidei também.

Depois (tempos mais amenos)
fui cortesão de Versailles,
espirituoso e devasso.
Você cismou de ser freira…
Pulei muro de convento
mas complicações políticas
nos levaram à guilhotina.

Hoje sou moço moderno,
remo, pulo, danço, boxo,
tenho dinheiro no banco.
Você é uma loura notável,
boxa, dança, pula, rema.
Seu pai é que não faz gosto.
Mas depois de mil peripécias,
eu, herói da Paramount,
te abraço, beijo e casamos.



I like you and you like me
since time immemorial.
I was Greek, you were Trojan,
Trojan, but not Helen.
I jumped from the Wooden Horse
to kill your brother.
I did, we quarreled, we died.

Then I became a Roman soldier,
persecutor of Christians.
At the catacomb’s door
I met you once again.
But no sooner had I seen you
naked, fallen on the circus dust,
and the lion that was running,
than I jumped in despair
and the lion ate us both.

Next I was a Moorish pirate,
the scourge from Tripoli.
I set the frigate on fire
where you were hiding
from the fury of my brigantine.
But when I was going for you
to take you as my slave,
you crossed yourself and stuck
a bodkin into your heart…
I killed myself as well.

After this (in happier days)
I was a courtier in Versailles,
lewd and full of wit.
You decided to be a nun…
I jumped over the convent wall,
but political turmoil

led us both to the guillotine.

Today I am a modern guy,
I row, jump, dance and box,
I have money in the bank.
You’re a remarkable blond,
you box, dance, jump and row.
It's your father  who doesn’t approve.
But after a thousand adventures,
I, a hero from Paramount,
hold you, kiss you and we get married.


SOURCE: Alguma Poesia. Cia das Letras: São Paulo, 2013. p.62

domingo, 30 de dezembro de 2018

Correspondances | Correspondências

Charles Baudelaire | Robert de Brose

Correspondances

La Nature est un temple où de vivants piliers
Laissent parfois sortir de confuses paroles;
L'homme y passe à travers des forêts de symboles
Qui l'observent avec des regards familiers.

5 Comme de longs échos qui de loin se confondent
Dans une ténébreuse et profonde unité,
Vaste comme la nuit et comme la clarté,
Les parfums, les couleurs et les sons se répondent.

II est des parfums frais comme des chairs d'enfants,
10 Doux comme les hautbois, verts comme les prairies,
— Et d'autres, corrompus, riches et triomphants,

Ayant l'expansion des choses infinies,
Comme l'ambre, le musc, le benjoin et l'encens,
Qui chantent les transports de l'esprit et des sens.

Correspondências

A natureza é um templo onde vivos pilares
Deixam por vezes escapar confusas palavras;
O homem aí passa numa floresta de charadas
Que o observam com semblantes familiares.

5 Como longos ecos que de longe se confundem
Em uma tenebrosa e profunda unidade,
Vasta como a noite e como a claridade,
Os perfumes, as cores e os sons se aludem.

Há perfumes frescos como a carne de infantes
10 Verdes como os campos, doces como as madeiras,
— E outros, corrompidos, ricos e triunfantes,

Possuidores d’amplidão das coisas verdadeiras,
Como o âmbar, o almíscar, o benjoim e o incenso,
Que cantam o enlevo do espírito e do senso.


Fonte: Les Fleurs du Mal. Classiques Françaises. Bookking International: Paris, 1993.