Charles Baudelaire | Robert de Brose
Au Lecteur 1 La sottise, l'erreur, le péché, la lésine, 5 Nos péchés sont têtus, nos repentirs sont lâches; Sur l'oreiller du mal c'est Satan Trismégiste C'est le Diable qui tient les fils qui nous remuent! Ainsi qu'un débauché pauvre qui baise et mange Serré, fourmillant, comme un million d'helminthes, 25 Si le viol, le poison, le poignard, l'incendie, Mais parmi les chacals, les panthères, les lices, II en est un plus laid, plus méchant, plus immonde! C'est l'Ennui! L'oeil chargé d'un pleur involontaire, | Ao Leitor A avareza, o erro, o pecado, a leseira Tenazes, os pecados; o arrependimento, infirme, No recosto do mal, eis Satã Trismesgisto É o Diabo que puxa os cordões que nos regem! Como um pobre canalha que beija e morde Denso, fervilhante, como um milhão de helmintos Se o estupro, o veneno, o punhal, e as chamas, Mas dentre os chacais, as hienas e as panteras, Há um que é o mais feio, enganoso, mais imundo! É o Enfado! O olho inchado de pura lassidão | Félicien Rops, Le Songe (1878-80) |
Fonte: Les Fleurs du Mal. Classiques Français. Bookking Internacional: Paris, 1993.
Notas:
1. Primeira versão da tradução: 21 de novembro de 2018.
2. v. 2: influem nos nossos [e castigam os] | nossa alma [noss’alma]
3. C'est l'Ennui! | É o Enfado!: “Enfado”, além de manter o mesmo padrão acentual do francês, reproduz mimeticamente o suspiro de uma pessoa enfadada com o contorno rítmico f:Ff (cf. “Que saco!” – também f:Ff, ou seja, inspira/pausa/expira com força); os dois pontos em f:Ff representam um breve alongamento da sílaba terminada em líquida-nasal. A tradução por “Tédio” destruiria, nesse caso, a figura sonora.
4. L'oeil chargé d'un pleur involontaire | O olho inchado de pura lassidão: claramente o olho lacrimeja em virtude da fumaça do houka, que devemos imaginar envolvendo o Enfado. Não consegui chegar (ainda) a uma solução que preserve a imagem, mas fiquei satisfeito com a imagem de que o Enfado, fumando ópio, deve ter os olhos lassos e distantes.
5. son houka | seu baseado: O houka é o que chamaríamos de “narguile”/ “arguile” ou “narguilé”. Desnecessário dizer da dificuldade da rima. Ela não é importante, no entanto, e, além disso, a modernização e o aculturamento dado por “baseado” me pareceu atrativa.
6. Hypocrite lecteur | Leitor fingidor: Um aceno a Fernando Pessoa: não apenas o poeta é um fingidor; o leitor, também por viver vicariamente a real fantasia do poeta, é tão fingidor quanto aquele.
Nenhum comentário:
Postar um comentário